Conheci Manoel Henrique Pereira em meados de 1994, período em que o plantio direto despontava com mais força nas lavouras do Rio Grande do Sul. Naquela época havia carência de informações, de experiências que pudessem ser aplicadas na realidade dos campos gaúchos.
Então, aquele que se dispunha a compartilhar seus conhecimentos era seguidamente requisitado para palestras nas diversas modalidades de eventos, dias de campo, seminários, encontros, reuniões. Esse foi Nonô Pereira, solícito e engajado, um propagador e defensor do Sistema Plantio Direto pelos quatro cantos do país e também em alguns “cantos” do mundo.
Um agricultor que foi símbolo de uma luta, que para ele começou em 1976, quando a primeira lavoura de soja foi semeada sobre a palha de trigo, na Fazenda Agripastos, nos Campos Gerais do Paraná. Manoel Henrique pereira foi um dos capitães dessa revolução chamada plantio direto. Sua influência na motivação dos agricultores foi tamanha que seu nome é citado sempre que se fala de conservação de solos.
Ele transpirava entusiasmo pela causa que defendia e, como disse Gilberto Borges na introdução do livro sobre os 25 anos de plantio direto de Nonô: “um cavalheiro, um homem nobre com raízes na terra.
A força do exemplo, a humildade em reconhecer a importância da pesquisa, da assistência técnica e dos trabalhadores da sua e das demais fazendas, e a disponibilidade fraterna para atender a todos que o procuraram, moldaram seu carisma”.
O início do plantio direto na Agripastos foi adverso, assim como foi mais tarde para outros tantos agricultores nas suas propriedades, era uma nova forma de fazer agricultura que nem sempre recebia o aval das recomendações técnicas e tinha certa dificuldade para conseguir financiamentos. Mesmo assim Nonô seguiu, e em razão disso sempre esteve na linha de frente da batalha pelo desenvolvimento do plantio direto nos Campos Gerais do Paraná e em todos os lugares onde sua presença era solicitada.
Fez incontáveis palestras mostrando suas ideias, de forma sincera e firme. Nunca recebemos uma negativa de Nonô para palestras nos eventos promovidos pela Revista. Também sei que não raro, ele tirava dinheiro do próprio bolso para custear as viagens para participar dos eventos, ofertando seu tempo, seu conhecimento e sua motivação.
Infelizmente pessoas como Nonô não são eternas, mas a marca que elas deixam é, e permanece em nós, nos acompanhará para sempre e continuará influenciando de alguma forma. Manoel Henrique Pereira não viveu em vão, deu um sentido nobre a sua existência: compartilhou, ensinou, aprendeu, defendeu com maestria aquilo em que acreditava.
Queria realmente acreditar que existe algo além desse momento tênue que vivemos aqui. Mas, se considero esta possibilidade, vem a minha mente a imagem de duas pessoas queridas, com um belo cenário ao fundo, em longas conversas filosóficas. Nonô e Gilberto, sem a necessidade do gravador, pois não se trata de uma entrevista. Nonô partiu no dia 8 de setembro de 2015. Ficam as lembranças e um exemplo a seguir.