Equipe Editorial Revista Plantio Direto
Introdução
Os custos de produção de lavouras de grãos, em especial soja e milho, têm aumentado muito nas últimas décadas. Embora os custos aumentem gradualmente, nem sempre é possível atingir altas produtividades que compensem o alto investimento de insumos, mecanização e tecnologia em geral, pois cada ano é um ano, e a necessidade hídrica do cultivo nem sempre é suprida, além de problemas com pragas, doenças e plantas daninhas por vezes reduzirem a produtividade e aumentarem o uso de insumos. Por isso, é importante ter muito bem controlado todos os custos e despesas além da receita que é obtida com a venda da produção.
Um dos apontamentos que alguns agricultores e técnicos fazem é que, o custo de incluir diferentes plantas de cobertura no sistema é alto.
O que gostaríamos de mostrar nessa reflexão é que, o custo de manter o solo coberto durante o ano todo apenas pode ser considerado alto se não pensarmos nos benefícios que essa prática traz, e não consideramos os problemas que surgem quando não fazemos isso.
Podemos analisar o custo de inserir coberturas vegetais de diferentes formas, como por exemplo, considerar o custo de plantas de cobertura como um custo da propriedade (da empresa agrícola), um custo de manutenção de um determinado patrimônio, como máquina ou galpão, ou nesse caso, do patrimônio solo.
Porém, nesse caso, vamos analisar considerando como parte do custo de produção da soja.
Insumo da cultura principal
Podemos pensar nas plantas de cobertura como um insumo para a cultura principal, partindo do princípio que, sem a utilização de cobertura do solo e rotação de espécies na mesma área, a cultura principal, seja soja, milho, trigo, feijão, ou qualquer outro grão, não terá o mesmo desempenho produtivo, em função de que a monocultura em um sistema de semeadura direta é extremamente prejudicial ao ambiente de produção, seja no quesito qualidade do solo, seja na dificuldade de manejo de pragas, doenças e plantas daninhas.
Visualizar o uso de plantas de cobertura como um insumo, tão essencial quanto fertilizante ou fungicida para ferrugem da soja, pode ser uma forma de visualizar também sua relação custo/benefício.
Exemplificamos nos quadros 1, 2, 3 e 4, o custo estimado de um hectare cultivado com soja, em diferentes cenários hipotéticos de plantas de cobertura. Sabemos que esses custos são bastante variáveis conforme a região e o ano, porém vamos considerar o seguinte para esse exemplo: uma propriedade com aproximadamente 200 hectares, no norte do Rio Grande do Sul, com máquinas e implementos próprios, considerando o valor do saco de soja como, R$ 150,00.
O consumo de combustível para cada máquina foi considerado como 15 L/h e o custo do óleo diesel como R$ 3,60/L. Foi considerado também que as operações foram feitas com as seguintes capacidades operacionais: semeadura – 2,3 ha/h; pulverização – 20 ha/h; distribuição de fertilizante – 12 ha/h; colheita – 3 ha/h.
Nessa ocasião não foi feito aplicação de corretivo de solo (calcário). Por fim, preferimos não incluir valores de depreciação, manutenção ou financiamentos no custo de produção da safra. Nesse caso, eles seriam considerados como custos da propriedade, não da safra, e para chegar a um equilíbrio de contas da empresa rural, podem ser descontados depois de pagos os custos operacionais e com insumos.
Você pode substituir os valores apresentados na tabela pelos valores mais próximos da sua propriedade ou região para obter uma análise mais fiel a sua realidade.
Talvez a conclusão que podemos chegar após essa análise é que, o custo de introduzir uma cobertura, por mais simples que seja não é expressivo, quando comparado aos demais insumos utilizados. O custo relativo de incluir aveia preta em áreas que não são arrendadas, por exemplo, é de 4,4% (isso considerando que o agricultor adquiriu a semente de aveia por um valor em torno de R$ 1,50/kg. Muitos produtores preferem “salvar” a semente de aveia).
O custo de incluir uma cobertura mais complexa no sistema (um consórcio de espécies com preço maior, como ervilhaca, por exemplo) nesse cenário irá variar entre 1,3 a 2 sacos por hectare. Considerando a estabilidade de produção e aumento da fertilidade ano a ano que podemos obter constituindo um sistema com solo protegido, nos parece que 2 sacos de soja por hectare é um investimento baixo.