Manejo de plantas daninhas em sistemas


Autores: Franciele Mariani, Leandro Vargas, Dirceu Agostinetto
Publicado em: 31/10/2015

No final da safra de inverno, quando as lavouras de milho já foram implantadas e a soja está em fase de implantação, a presença de buva, poaia, maria-mole e leiteiro entre outras espécies daninhas nas lavouras significa que houve erro no manejo no inverno.

O controle inadequado dessas espécies daninhas na dessecação pode resultar em perdas de rendimento por competição. Assim, esse é o momento de garantir o controle das daninhas e impedir perdas de rendimento por competição. 

Controle antes da semeadura

O número de moléculas herbicidas registradas para controle (dessecação) de plantas daninhas antecedendo a semeadura das culturas é considerado pequeno. Os herbicidas disponíveis para uso são 2,4-D, glifosato e amônio-glufosinato. Enquanto o primeiro controla essencialmente plantas dicotiledôneas, o glifosato e glufosinato são herbicidas totais, controlando tanto dicotiledôneas quanto gramíneas.

A ocorrência de buva e azevém resistentes ao glifosato e de azevém resistente aos graminicidas (cletodim, haloxifope entre outros) e inibidores da ALS (iodosulfurom, nicosulfurom), é um problema para o sistema de produção. As sementes de buva e azevém germinam durante o inverno, formando vegetação que necessita ser manejada antes de semear a cultura de verão.

Geralmente o controle eficiente de buva pode ser obtido com o uso de glifosato associado com o 2,4-D. O azevém, resistente ao glifosato, e gramíneas como o capim pé-de-galinha, podem ser controlados com herbicidas graminicidas “fops e dims” como exemplos o haloxifope, o cletodim, o fenoxaprope, o fluazifope e o setoxidim.

Alguns desses graminicidas, como o haloxifope, podem apresentar efeito residual e afetar a cultura do milho. Para evitar problemas de residual para cultura recomenda-se que a aplicação desses produtos ocorra com antecedência de 15 a 20 dias da semeadura do milho.

Já o azevém resistente ao glifosato e inibidores da ACCase somente será controlado por inibidores da ALS (Hussar) ou por herbicida total. Já a poaia e a trapoeraba são controladas com aplicações sequenciais de glifosato associado ao 2,4-D.

O importante é que as aplicações ocorram quando as espécies daninhas estejam em estados iniciais de desenvolvimento, pois espécies como a poaia aumentam a tolerância aos herbicidas com o avanço nos estádios vegetativos.

Manejo e controle de azevém com resistência múltipla

A resistência múltipla obriga os produtores a alternar os herbicidas de acordo com o tipo de resistência presente na área. Já foram identificados biótipos de azevém com resistência simples (somente ao glifosato) e resistência múltipla (glifosato+ALS e glifosato+ACCase) (Figura 1).

Medidas de prevenção e manejo da resistência devem ser adotadas pelos produtores, para reduzir a dispersão e prolongar o tempo de uso dos herbicidas. Dentre as medidas de prevenção e manejo destaca-se: uso de sementes certificadas; não usar repetidamente o mesmo mecanismo herbicida; e considerando que a resistência se dispersa via pólen a eliminação de plantas “voluntárias” ou “escapes” é indispensável para evitar a dispersão.

O controle de azevém, com resistência múltipla, deve ser planejamento com antecedência de 15 a 20 dias antes da semeadura das culturas, de forma a permitir o uso de medidas corretivas antes da semeadura e, ainda, o controle em tempo suficiente para evitar os efeitos negativos da competição e da alelopatia sobre as culturas. Com relação aos herbicidas, no caso de azevém resistente ao glifosato pode-se utilizar na área os herbicidas inibidores da ALS ou da ACCase.

Já nos casos de resistência múltipla, ou seja, ao glifosato e aos inibidores da ALS, somente os inibidores da ACCase serão eficientes. Por outro lado, nos casos de resistência múltipla, que envolva o glifosato e os inibidores da ACCase, somente os inibidores da ALS serão eficientes (Tabela 1).

Na dessecação de azevém podem ser utilizados herbicidas de contato como, por exemplo, o glufosinato, atentando-se para o estádio vegetativo, pois esse herbicida controla eficientemente plantas jovens de azevém, preferencialmente ainda não perfilhadas.

Vale salientar que mesmo utilizando-se um graminicida para controle do azevém na présemeadura (dessecação), a necessidade de utilização de glifosato para controlar as espécies dicotiledôneas (folhas largas) permanece. 

Assim, a resistência do azevém aos herbicidas glifosato, glifosato+ALS e glifosato+ACCase faz com que os produtores necessitem acrescentar mais um herbicida na lista de aplicações ou a alterar o manejo da vegetação nestas áreas, utilizando métodos de manejo e controle, muitas vezes menos eficientes e com maior custo de implantação.

Esses fatos ilustram aumento do custo de produção devido à resistência.

Visão de futuro: novas moléculas e tecnologias para controle de plantas daninhas

Os casos de resistência no Brasil foram resolvidos historicamente com a introdução de novas moléculas ou de uma nova tecnologia que permitiu o uso de uma nova molécula.

Para os novos casos de resistência múltipla (buva resistente ao glyphosate e inibidores da ALS e azevém resistente ao gyphosate e inibidores da ALS e ACCase) as perspectivas de lançamento de novas moléculas ou tecnologia com potencial de controle eficiente dessas plantas daninhas resistentes são restritas.

As novas tecnologias, em termos de plantas cultivadas resistentes a herbicidas, relacionam-se com os herbicidas amônio-glufosinato, 2,4-D e dicamba. Em uma análise geral dessas tecnologias fica evidente que estas são eficientes e oferecem alternativas novas para controle seletivo de buva (2,4-D, dicamba e amônio-glufosinato), entretanto, isso não é observado para as espécies gramíneas, como o azevém.

Portanto, considerando-se que não existem novos mecanismos de ação herbicida sendo introduzidos no mercado e que as novas tecnologias, envolvendo culturas modificadas para resistência a herbicidas, não oferecem solução para controle de azevém pode-se especular que essas espécies serão os principais problemas a serem manejados no futuro. Assim, o azevém torna-se atualmente a principal planta daninha para o RS.

MANEJO: o que fazer?

A maior motivação para adoção de práticas de prevenção e manejo da resistência por parte do produtor resulta da resposta da seguinte pergunta: Na impossibilidade de uso do glifosato ou de outros herbicidas como será realizado o controle de plantas daninhas?

Seja qual for a resposta, certamente será com uso de métodos e produtos menos eficientes do que os que vinham sendo utilizados, com maior custo e, provavelmente, com maior impacto ambiental.

 

A decisão está “nas mãos” do produtor. Porém, cabe a assistência técnica apresentar alternativas de manejo para que o produtor decida levando em consideração as suas preferências.

Contudo, é importante salientar que para evitar o agravamento da seleção de espécies tolerantes e/ou resistentes, e prolongar o tempo de utilização eficiente da tecnologia das culturas resistentes ao glifosato e outros herbicidas, o produtor deve adotar medidas de manejo para prevenir a seleção de espécies resistentes e/ou tolerantes.

Dentre várias práticas de manejo as principais indicadas são:

a) Não usar consecutivamente herbicidas com o mesmo mecanismo de ação na mesma safra ou área. Não repetir o uso de herbicidas com mesmo mecanismo em uma cultura. Além disso, se usar na dessecação um mecanismo herbicida não utilizar este mecanismo novamente na pré ou pós-emergência da cultura.

Em casos onde a seleção de espécies resistentes e/ou tolerantes ocorrer, deve ser implantado um sistema de rotação de mecanismos de ação herbicida, eficazes sobre as espécies problema.

b) Monitorar e destruir plantas suspeitas de resistência. Após a aplicação do herbicida as plantas que sobreviverem devem ser arrancadas, capinadas, roçadas, ou seja, controladas de alguma forma evitando que essas plantas produzam flores ou sementes e se disseminem na área.

c) Fazer rotação de culturas. A rotação de culturas oportuniza a utilização de um número maior de mecanismos de ação herbicidas. O cultivo permanente da área, com culturas de valor comercial ou para cobertura do solo como trigo, centeio, canola, aveia, soja, milho, diminui o número de plantas daninhas quando comparado com áreas não cultivadas (mantidas em pousio).

O uso de estratégias como sobre-semeadura de aveia ou azevém em lavouras de soja e cultivo de culturas concomitantes, como exemplo de Brachiaria ruziziensis cultivada juntamente com o milho apresentase como uma boa opção para regiões mais quentes como Paraná.

Contudo, é importante que ao decidir o cultivo de uma espécie leve-se em consideração as opções e momento do controle dessa espécie antes do cultivo de cultura sucessiva.

Considerações finais

Em uma análise geral, o custo de controle em situações de resistência simples varia entre R$4,00 e R$153,00 e, em situações de resistência múltipla, entre R$20,00 e R$196,00.

Considerando-se a área de cultivo de soja do Rio Grande do Sul como sendo de 4 milhões de hectares e a suposição de que 50% da área apresenta problemas de buva e azevém, os prejuízos advindos da resistência, com a necessidade de uso de herbicidas adicionais pode chegar a R$400 milhões por ano, além do impacto ambiental causado pelo maior uso de herbicidas.

Adicionando-se a esses valores as perdas de rendimento, devido à competição das plantas daninhas com as culturas, os custos da resistência ultrapassam a R$1,0 por safra no RS. Se considerarmos o Brasil esse número aumenta mais de 10 vezes.

As novas moléculas e tecnologias (culturas modificadas para resistência) aparecem como alternativa para controle de buva, contudo, para azevém e capim-amargoso (Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso) não apresentam-se como alternativas eficientes. Assim, o azevém e o capim-amargoso provavelmente serão as espécies de maior dificuldade de manejo no futuro.