Rio Grande do Sul: um estudo de caso sobre o sistema de produção de milho


Autores: Bruna San Martin Rolim Ribeiro, Alencar Junior Zanon, Alexandre F. Alves, Nereu Augusto Streck, Eduardo Daniel Friedrich, Isabela Bulegon Pilecco, Simone Puntel, Luiz Felipe Vieira Sarmento, Ijésica Luana Streck, Victória Brittes Inklman, Luis Fernando R. de Oliveira, Guilhermi Penteado Simões, Kaleb Emanoel Ferreira do Amaral , Christian Savenhago
Publicado em: 28/02/2021

1 Introdução

O Rio Grande do Sul (RS) é responsável por 16% da produção brasileira de milho (CONAB, 2020). Neste estado, os principais cultivos de verão são soja, arroz e milho (65%, 11% e 9% da área total das terras cultivadas, respectivamente). Nos últimos dez anos, o milho perdeu % de sua área para o cultivo da soja no Rio Grande do Sul. No entanto, o milho é uma cultura estratégica na composição de vários sistemas de cultivo, com importante participação na rotação de culturas no sistema de plantio direto (CONTINI et al., 2019).

Para aumentar a produtividade de uma cultura, no caso o milho, é necessário conhecer o potencial produtivo, lacuna de produtividade e quais fatores estão limitando.

O ambiente e a genética da planta definem o potencial de produtividade (PP) de uma cultura, sendo que, a quantidade de radiação solar incidente, quantidade de água disponível, concentração de CO2 atmosférico, temperatura do ar e características genéticas de uma cultivar determinam o máximo que a cultura pode produzir. Fatores como incidência de pragas, doenças, fornecimento insuficiente de água e nutrientes são limitantes da produtividade (EVANS, 1993).

Para uma estimativa mais robusta, deve-se levar em consideração as particularidades de cada região em estudo. Diante disto a Equipe FieldCrops buscou estimar o potencial produtivo e a lacuna de produtividade nos sistemas de produção predominantes no Rio Grande do Sul.

2 Materiais e Métodos

Neste estudo, o Rio Grande do Sul foi dividido em três grandes sistemas de produção (descritos na figura 1) que incluem a cultura do milho. Para a estimativa dos potenciais, foi demarcado um raio de 100 km ao redor de estações meteorológicas a fim de representar a área de colheita de milho no RS. Sendo assim, os nove círculos na figura 2, representam 96% da área de produção de milho no RS.

Assim, através da divisão baseada em sistemas e utilização de modelos matemáticos baseados em processos da cultura do milho (Hybrid Maize, versão 2019), calibrados com cultivares utilizadas no sul do Brasil, foi possível estimar o potencial de produtividade da cultura do milho de forma mais realista para o RS.

3 Resultados e Discussão

O maior potencial de produtividade (Pp) no RS é no sistema 2, com 17,9 ton/ha (Figura 3A). O uso de cultivares de ciclo superprecoce, aliado à semeadura em final de setembro, permite que o período de maior exigência da planta ocorra no mês de janeiro, quando ocorre maior disponibilidade de radiação solar. Além disso, a temperatura média do ar mais baixa da região possibilita condições favoráveis para o desenvolvimento do milho.

Com temperaturas noturnas do ar mais baixas, há maior ganho em fotossíntese líquida devido ao menor gasto de energia no processo de respiração. O sistema 3 tem o segundo maior potencial de produtividade, com 16,2 ton/ha, e o sistema 1, o menor potencial, com 13,6 ton/ha, sendo o ciclo de desenvolvimento das cultivares semeadas em cada sistema o fator principal responsável por estas diferenças (Figura 3A).

O número de dias a mais no ciclo total em que a cultura fica exposta no sistema 3 é maior do que no sistema 1, com isso, o período de enchimento de grãos é prolongado (SANGOI et al., 2002).

O potencial de produtividade limitado pela água (PPa) é de 11,4; 15,2 e 14,2 ton/ha nos sistemas 1, 2 e 3, respectivamente (Figura 3B). O sistema 2 apresenta maior quantidade e melhor distribuição de chuva em uma média de 15 anos agrícolas, além de possuir como solo predominante os latossolos, que são naturalmente bem estruturados e profundos, com boa capacidade de armazenamento de água (STRECK et al., 2008).

A produtividade média (PM) é a média dos últimos 15 anos de cada município que compõem a área marcada em volta das estações (2004 – 2019). O sistema 2 apresenta maior PM, chegando a 8,6 ton/ha, seguido pelo sistema 1, com 7,6 ton/ha, enquanto a menor produtividade média é observada no sistema 3, com 4,0 ton/ha (Figura 3C).

Conhecendo os valores de Pp, PPa e PM pode-se calcular as lacunas de produtividade ocasionada pela água e ocasionada pelo manejo em cada sistema (Figura 4). A maior lacuna de produtividade ocasionada pelo manejo (Lm = Pp- PM) é encontrada no sistema 3, que apresenta as menores produtividades médias nos últimos 15 anos agrícolas (Figura 4A). Para os sistemas 1, 2 e 3, a lacuna de água (La = PPa - PM) (Figura 4B) de 16,2, 14,8 e 12,2%, respectivamente, é provocada pela baixa quantidade ou distribuição irregular de água durante o ciclo de desenvolvimento.

A lacuna de água (La) nos sistemas de produção é considerada pequena quando comparada a lacuna de manejo (Lm), uma vez que as datas de semeadura utilizadas para as estimativas estão de acordo com o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) da cultura.). Para os sistemas 1, 2 e 3, a lacuna de manejo (Lm) (Figura 4A) de 32,8, 44,4 e 71,2%. Estes resultados indicam que com apenas boas práticas de manejo é possível diminuir a lacunas de produtividade de milho no Rio Grande do Sul.
 

Referências

CONTINI, E. et al. Milho: caracterização e desafios tecnológicos. Desafios do Agronegócio Brasileiro, Brasília, DF: Embrapa, 2019. 45 p.

EVANS, L. T. Crop evolution adaptation and yield. Cambridge University Press, v. 8, n. 12, 1993. 461 p.

VAN WART, J. et al. Use of agro-climatic zones to upscale simulated crop yield potential. Field Crops Research, v. 143, n. 1, p. 44-55, 2013.

SANGOI, L. et al. Bases morfofisiológicas para maior tolerância dos híbridos modernos de milho a altas densidades de plantas. Bragantia, Campinas, SP, v. 61, n. 2, p. 101-110, 2002.

STRECK, E. V. et al. Solos do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS: UFRGS, 2008. 222p.