Expodireto garante ações para o agronegócio


Autores: Equipe Editorial Revista Plantio Direto
Publicado em: 31/12/2014

Mesmo com a instabilidade econômica no país e volatilidade do câmbio, o que prevaleceu foi o otimismo durante a 16ª Expodireto Cotrijal, de 9 a 13 de março, em Não-Me-Toque.

Quem foi à feira para fazer negócios encontrou boas oportunidades e quem foi em busca de novidades em tecnologia e informação também saiu satisfeito. Fiel aos seus objetivos, a feira mais uma vez reuniu o que tem de melhor em soluções e serviços para a agricultura e pecuária. Mas diferente da euforia dos dois últimos anos, o que imperou na Expodireto 2015 foi a cautela na hora de fechar ou “alinhavar” negócios.

No total, as propostas de financiamento protocoladas na feira deste ano alcançaram R$ 2,182 bilhões. A expectativa é de que o índice de aprovação deva ser maior do que em 2014 e nos anos anteriores, em função das vendas reais já encaminhadas. Já o Pavilhão da Agricultura Familiar foi destaque com alta de 5% nos negócios, totalizando R$ 854 mil.

Apesar da queda de quase 35% no total de vendas em relação a 2014, que foi de R$ 3,2 bilhões, os resultados foram considerados positivos pelo setor. “Diante do cenário atual do país, com inflação e taxas de juros elevadas, redução de crédito, o dólar disparando, os números são bastante positivos. Tivemos uma feira com expositores satisfeitos e produtores focados em aproveitar oportunidades”, avaliou o presidente da Cotrijal, Nei César Mânica.

Mânica ressaltou também o crescimento da Expodireto, de 114 expositores, na primeira edição em 2000, para 530 em 2015. Ele reafirmou ainda que a Expodireto se dá em três frentes: tecnologia, oportunidades e inovações. “Sem capacidade de competir, não há sustentabilidade”, disse.

A organização da feira acredita que o atual cenário da agricultura, que prevê uma excelente safra de milho - acima de 5,5 milhões de toneladas no Rio Grande do Sul - e projeção recorde na colheita de soja no Estado - 15 milhões de toneladas –, segundo o IBGE, contribuiu para dar ânimo aos negócios.

Reflexo positivo o ano todo

“São cinco dias de feira, mas que têm reflexos no ano todo. Serve de inspiração para a tomada de decisões e alavanca negócio”, destacou o vice-presidente da Cotrijal e coordenador da Comissão de Divulgação da feira, Enio Schroeder. Ele ressaltou que, ao visitar evento, os produtores têm acesso às novas tecnologias e a informações que podem ser aplicadas na propriedade.

“Além de disseminar o conhecimento, a feira abre as portas do mercado gaúcho para todo o mundo. Por isso, a Expodireto tem esse importante papel no desenvolvimento do setor primário”.

Crédito especial aos produtores

O anúncio da ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Kátia Abreu, de crédito especial aos produtores, também pode ter impulsionado a busca por financiamentos durante a feira. Pelo menos essa era a sensação entre os expositores e instituições financeiras, segundo Mânica.

Em visita ao parque da Expodireto, na segunda-feira (9), a ministra garantiu R$ 1,5 bilhão para o financiamento de máquinas agrícolas, por meio do Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras (Moderfrota) - linha de financiamento do BNDES -, a uma taxa de juros de 4,5%.

Mas por outro lado, segundo Kátia, o Plano Safra 2015/2016 deverá contar com taxas de juros mais altas dos que as atuais. “Jamais faríamos algo para inviabilizar qualquer segmento do agronegócio no Brasil. As mudanças serão feitas de acordo com a necessidade real e não para inviabilizar o setor”, ponderou. Já na quinta-feira (12), a ministra liberou mais R$ 1,8 bilhão, desta vez, com juros anuais de 7,5%.

“É uma boa notícia para o setor, que vive um bom momento. Ao visitar a feira, a ministra constatou o quanto é importante incentivar a produção”, comemorou Mânica. O contingenciamento de recursos para o financiamento de máquinas agrícolas era uma das principais reclamações do setor. Na sua estreia no Rio Grande do Sul, na condição de ministra, Kátia Abreu pediu para que o Espírito Santo ilumine o governador Sartori em sua missão de reerguer o Estado.

A ministra também disse que o trabalho da Pasta será para qualificar o setor, com a ampliação da classe média rural e a expansão das culturas irrigadas. Em relação ao Plano de Defesa Agropecuária, cuja divulgação está programada para abril, ela afirmou que o Mapa e o agronegócio “são parceiros do ajuste fiscal”, mas não abdicarão de certos pontos, como o seguro agrícola e patamares diferenciados para médios produtores.

Ao final, Kátia Abreu disse da sua alegria e satisfação de vir ao Estado para prestigiar a Expodireto Cotrijal. “É o mínimo que o governo brasileiro pode fazer por este grande evento construído pela iniciativa privada, com todos os seus parceiros”, ressaltou. Ela gostou tanto da feira que estendeu a agenda no parque além do previsto.

Estado se reflete na Expodireto

Com um discurso focado na sua política de mandato, o governador do Estado, José Ivo Sartori, também marcou presença na feira. “Estamos na terra do agronegócio. Venho aqui também, junto com a equipe de governo, para colher exemplos. Todo esse trabalho da Cotrijal começa lá na terra, com uma semente.

É isso que queremos plantar, uma semente de mudança, mas com cautela, com prudência, sem espetáculos”, disse. Segundo ele, o governo deverá apresentar, até o fim deste primeiro semestre, um plano que será elaborado em conjunto pelas secretarias da Agricultura e do Desenvolvimento Rural para o setor.

Presenças - Pelo parque da Expodireto Cotrijal 2015 passaram ainda o vice-governador, José Paulo Dorneles Cairoli; os secretários estaduais Tarcísio Minetto (Desenvolvimento Rural e Cooperativismo), Pedro Westphalen (Transportes), Wantuir Jacini (Segurança Pública), Juvir Costellla (Turismo, Esporte e Lazer), Miki Breier (Trabalho e Desenvolvimento Social), Elói Flores (Educação); o secretário de Desenvolvimento Rural e Cooperativismo do MAPA, Caio Rocha; os presidentes do Irga, Guinter Frantz, da Fepagro, Adoralvo Schio, e da Emater, Clair Kuhn; prefeitos da região, vereadores e secretários municipais.

Também estiveram presentes os ex-ministros da Agricultura Roberto Rodrigues, Luis Carlos Guedes Pinto e Francisco Turra; os senadores Lasier Martins (PDT-RS), Donizeti Nogueira (PT-TO) e Amélia Lemos (PP-RS), deputados estaduais e federais, e lideranças do agronegócio, como os presidentes da Farsul, Carlos Sperotto, da FecoAgro, Paulo Pires, e do Sistema Ocergs-Sescoop/RS, Vergílio Perius.

O embaixador do Zimbábue e decano dos embaixadores africanos, Thomas Sukutai Bvuma, representava a comitiva internacional.

26° Fórum Nacional da Soja

Custos mais elevados na próxima safra exigem cautela

O 26° Fórum Nacional da Soja, realizado no Auditório Central do Parque da 16ª Expodireto Cotrijal, mobilizou um grande número de produtores no segundo dia da feira.

Durante toda a manhã os participantes do Fórum receberam informações sobre a situação política e econômica do país e os seus reflexos para o setor produtivo, além de orientações técnicas sobre manejo da lavoura de soja.

O sócio-diretor da MB Agro, Alexandre Mendonça de Barros, defendeu que os altos custos de produção - ele estima um reajuste de 30% - para a próxima safra de soja exigirá cautela por parte dos produtores.

Quanto ao preço do grão, o economista acredita que, internacionalmente, deve-se manter estável ao longo do ano, a princípio sem grandes sobressaltos. “Em dólares, esse preço não muda muito. Em reais, vai depender da situação econômica vivida pelo país, que tem se confundido bastante com a política”, revelou, citando que o aumento do custo de produção é proporcional a desvalorização da moeda.

Ainda segundo Mendonça de Barros, ao mesmo tempo em que a alta do dólar deve estabelecer moderação para a próxima safra, a atual deverá apresentar boa rentabilidade aos produtores rurais. “Deus criou o câmbio para humilhar os economistas”, brincou, ao final da palestra, reforçando que o momento, apesar da euforia, exige maior controle na hora de planejar a próxima lavoura.

“Quando o preço está assim, elevado, o produtor costuma se empolgar. Porém, é preciso que ele tenha atenção para o fato de que os custos de produção também serão maiores em 2016”.

Economia ainda tem saída

O CEO do BTG Pactual, André Esteves, respondeu aos produtores questões voltadas ao cenário econômico.  Durante a palestra, Esteves indicou um cenário macroeconômico em que a atual turbulência pode ser facilmente revertida, desde que sejam adotadas as medidas corretas. “O país já enfrentou momentos piores na economia. A primeira ação é diagnosticar e definir o rumo que será dado.

O mercado considerou a indicação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda uma boa escolha, mas essa reação ao que está ocorrendo no país tem um fundo mais político do que propriamente econômico”, explicou.  Ao ser indagado por um produtor quanto ao crédito rural, Esteves afirmou que não vê redução na oferta de crédito aos produtores rurais, porém, segundo ele, a taxa de juros deve sofrer alterações, ainda que pequenas.

“Ninguém mexeria em algo que funciona tão bem. O índice de inadimplência é baixíssimo, é um setor em que não existe corrupção e que é bem visto pela sociedade”, ressaltou.

Sementes certificadas

O doutor em Agronomia Elmar Luis Floss, professor, pesquisador e diretor do Instituto Incia, abordou a questão do manejo da lavoura de soja para alta produtividade. De acordo com Floss, a produção de soja no Brasil cresceu 746% entre os anos de 1965 e 2013. “A soja é a cultura mais importante do Brasil atualmente, que gera muitos empregos diretos e indiretos.

É o melhor negócio do Brasil, um negócio que está dando certo”, disse. Outra questão abordada por Floss foi em relação ao emprego de sementes não certificadas, o que, segundo ele, influi diretamente na qualidade do grão e na produtividade.

“Existem 5 milhões de hectares de soja no Rio Grande do Sul. Deste total, uma média de apensas 30% utiliza semente certificada. Se o produtor acredita que irá ter um custo menor adquirindo essa semente sem certificação, ele está equivocado.

Este tipo de semente não garante alta produtividade. Já com as sementes certificadas, com o tratamento ideal, a produtividade é próxima de 100%”, avaliou. Segundo Floss, até 2050 a população mundial terá aumentado em 2 bilhões de pessoas, o que vai sobrecarregar a produção.

Para que não faltem alimentos, ele acrescenta a necessidade do produtor conhecer o funcionamento da planta, para que não haja perda em rendimento. “Para atender essa demanda, cerca de 70% do aumento da produção terá que vir da produtividade”, ressaltou.

7º Fórum Nacional do Milho debate alternativas para a cultura

O milho produzido no Brasil é o melhor do mundo. Essa afirmação fez parte das declarações da sétima edição do Fórum Nacional do Milho, realizado em 9 de março no auditório central da Expodireto Cotrijal.

O evento contou com a participação de lideranças do agronegócio gaúcho e brasileiro que debateram sobre a cadeia produtiva do milho, com o enfoque para o desenvolvimento de projetos visando o aumento da produção e da transformação do grão em proteína animal. “Temos que unir esforços e buscar políticas públicas para junto com o produtor alavancar a média nacional de produção”, disse Enori Barbieri, representante da Abramilho de Santa Catarina.

Conforme o consultor de agronegócio Carlos Cogo, atualmente, o milho representa 4% das exportações brasileiras do agronegócio e ainda tem potencial para ser mais difundido tanto nas exportações quanto no mercado interno. “O milho está fortemente ligado a outros segmentos da cadeia produtiva. Somente a avicultura de corte absorve 29% do milho colhido no Brasil”, explicou.

Também segundo o consultor, a atual cotação do dólar acaba influenciando diretamente em uma melhoria e em uma piora da rentabilidade do produtor. “Para quem vai exportar a produção, a alta do dólar é algo muito bom.

Porém, ao contabilizar os custos da produção que incidem em muitos produtos químicos importados, a conta fica bem mais alta”, analisou. A supersafra de milho nos Estados Unidos em 2012 fez com que o valor do grão em todo o mundo tivesse uma queda. Para 2015, Cogo projeta uma safra de 40 milhões de toneladas de milho no Brasil e o preço do grão deve permanecer estável.

Já o coordenador do 7º Fórum Nacional do Milho, Odacir Klein, afirmou que a tecnologia empregada nas lavouras atualmente permite uma produtividade inimaginável há daqui alguns anos. “Hoje em dia colher cem sacas por hectare é absolutamente normal, com alguns lugares ultrapassando a duzentas. Isto só foi possível quando os produtores passaram a inserir a tecnologia na lavoura”, declarou.

O Governador do RS, José Ivo Sartori, declarou que há a necessidade de uma política púbica específica para o milho. “É necessário avançar, do contrário, o milho vai fugir daqui e ser cultivado em outro lugar.

O Governo do Estado quer ajudar o produtor, ainda que não haja grande volume para investimento. Onde o Estado não puder ajudar deve, ao menos, não atrapalhar. Desta forma estamos juntos aos produtores na obtenção deste investimento”, disse.

Trigo

Projeções - Pela primeira vez na história da Expodireto Cotrijal, a cadeia produtiva do trigo teve um espaço especial para debater os anseios da produção do cereal.

No quarto dia da feira, lideranças do setor, pesquisadores, entidades e estudantes, participaram do “Encontro prospecções para consolidar a viabilidade da cadeia do trigo”, com destaque para o debate sobre temas importantes que envolvem o desenvolvimento da cultura, como a qualidade industrial, segregação, comercialização e a próxima safra no sul do Brasil.

“No Brasil temos cinco classes de trigo: melhorador, pão, doméstico, brando e trigo biscoito. Essa separação nos proporciona uma melhor liquidez e maior preço, por isso a importância da segregação e da separação”, comentou Sérgio Dotto, chefe-geral da Embrapa Trigo.

Com 3 milhões e 300 mil toneladas de trigo produzidos na safra de 2013, com um consumo interno no Rio Grande do Sul de 1 milhão e 100 toneladas, um anseio é a abertura de novos mercados para a exportação. Sérgio Dotto alerta para os países da África como potenciais compradores do trigo gaúcho.

“Temos que aproveitar esses eventos como a Expodireto Cotrijal e apresentar e colocar esse trigo em rodadas de negócios e iniciar assim uma política de comercialização”, explicou.

Ainda indefinida, a próxima safra de trigo no RS pode sofrer uma forte queda na área cultivada. Segundo o assistente técnico da Emater, Luiz Ataídes Jacobsen, a quebra da última safra do cereal poderá influenciar na hora da definição dos projetos visando os investimentos futuros no trigo. “Trabalhamos com uma projeção de até 30% de redução na área de trigo no RS, em comparação com a safra passada.

Mas acreditamos que esse número possa se modificar a partir de uma avaliação melhor da cultura”, disse. Projeto Trigo - Ao final do encontro, membros do Sindicato Rural de Passo Fundo apresentaram um projeto que tem como objetivo criar a Associação Trigo Brasil, reunindo cooperativas, indústria e cerealistas.

A intenção, segundo João Batista da Silveira, membro da Comissão de Trigo do Sindicato Rural, é que a entidade atue como representante de toda a cadeia, defendendo os interesses tanto dos produtores quanto das indústrias e dos cerealistas.

“Queremos uma associação que seja vigilante a todas as políticas de trigo a serem desenvolvidas, de logística, de redução de tributos, de condição de armazenagem, enfim, a tudo o que está faltando”, destacou, explicando que a proposta da criação da entidade será apresentada agora individualmente aos diferentes setores.

Estrangeiros aprovam nova forma de negociar

Em meio a multidão que passou pelo parque da 16ª Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque, um grupo com sotaque e idioma variado chamou a atenção dos expositores e do público. A feira deste ano atraiu 250 estrangeiros (diplomatas, importadores e formadores de opinião) de 70 países. A possibilidade de negociar tecnologias diretamente nos estandes agradou os gringos.

No alvo dos importadores estavam soja, arroz, frango, carne bovina e máquinas e implementos agrícolas. De acordo com o coordenador da área internacional da Expodireto Cotrijal, Evaldo Silva Júnior, a maior delegação que passou pela feira foi a da Alemanha.

A comitiva composta por 40 produtores rurais queria ver o que está sendo desenvolvido de tão bom que faz com que o Brasil, em especial o Rio Grande do Sul, seja um grande produtor de soja, milho e arroz. “O Brasil é hoje uma referência em agronegócio assim como a Alemanha e os Estados Unidos. Por isso, a presença deles aqui. Um ganho muito grande para o evento, expositores e importadores”, disse.

Do Marrocos quem veio ao Brasil para a feira de Não-Me-Toque foi o ministro-conselheiro da embaixada, Mohamed Boulmani. Na Expodireto, ele participou de rodadas de negócios no Pavilhão Internacional e, após, percorreu estandes do setor de máquinas e implementos em busca de preços, bons produtos e parcerias de longo prazo.

A diversidade de tecnologia, a organização e logística da feira impressionaram o estrangeiro. Da embaixada de Benin, na África, veio Ahovey Greenon Raoul. Ele estava a procura de máquinas e implementos que pudessem ser aplicados em lavouras de milho, algodão e cana-de-açúcar de pequenas propriedades. Esbanjando elegância, fez questão de registrar cada momento do passeio.

Quem também percorreu os estande com olhos atentos foi o cônsul da área econômica da República da África do Sul, Willem van der Spuy. “É uma mostra completa. Não falta nada”, comentou.

Os números da 16ª edição Setenta países participantes. Pela primeira vez, o evento teve representantes da Malásia, da Bielorrussia, da Irlanda, da Mauritânia e de Mianmar. As maiores delegações foram da Alemanha, Nigéria, Angola e Irã. Expositores - 530

Mais de 2,1 bilhões de reais em negócios encaminhados. O evento registrou um público visitante superior a 230 mil pessoas. Próxima edição da Expodireto Cotrijal acontecerá de 7 a 11 de março de 2016.