A ferrugem da folha (Figura 1), que tem como agente causal o fungo Puccinia coronata f. sp. avenae Eriks, é considerada a doença mais importante da cultura da aveia. A doença compromete não só o rendimento, mas também a qualidade dos grãos produzidos.
Além disso, o P. coronata f. sp. avenae há muito tempo vem desafiando o trabalho de melhoramento genético, uma vez que esse patógeno possui grande variabilidade genética, dificultando assim o lançamento de cultivares resistentes à doença (FORCELINI & REIS, 2005). A partir disso, tem-se na aplicação de fungicidas uma das principais alternativas de manejo da doença (REIS et al., 2001).
A aplicação de um tratamento fitossanitário tem início a partir do momento em que há deposição das gotas da pulverização no alvo específico (CHRISTOFOLETTI, 1992). Dessa forma, para uma alta eficiência no controle de doenças, as gotas do fungicida devem ser depositadas em todas as folhas das plantas (AZEVEDO, 2003).
A deposição do tratamento depende da penetração das gotas atingido o interior do dossel da planta. Fatores como a composição da calda fitossanitária, o modelo da ponta de pulverização escolhido, a pressão de operação, o diâmetro e homogeneidade das gotas, a velocidade da máquina aplicadora, a altura da barra e o volume de pulverização, exercem influência direta para a penetração das gotas (BOLLER, 2013).
Dentre os fatores citados, as pontas de pulverização são os elementos mais importantes para a obtenção de uma aplicação bem sucedida (MATTHEWS, 2000). O objetivo desse trabalho foi comparar a eficiência da aplicação de fungicidas para o controle da ferrugem da folha da aveia, realizada com e sem a presença de um dispositivo de auxílio à barra com quatro diferentes pontas de pulverização.
O experimento foi conduzido na área experimental da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo (FAMV/UFP), Passo Fundo - RS. Sementes da cultivar UPFA Gaudéria foram semeadas no dia 05/07/2013 com população regulada para 350 sementes viáveis/m2 e adubação de 250 kg/ha do fertilizante N-P2O5- K2O (5-25-20).
No início do perfilhamento foi realizada a adubação de cobertura com 80 kg/ha de uréia (45% N). Para a manutenção da sanidade das plantas foi realizada uma aplicação preventiva de fungicida em área total no final da elongação.
Para tanto, foi utilizado o fungicida trifloxistrobina + tebuconazol (Nativo®) na dose de 0,6 L/ha acrescido de 0,5 L/ha do adjuvante à base de éster metílico de óleo de soja (Áureo®). As parcelas experimentais foram demarcadas com 10,0 m de comprimento e 3,0 m de largura, assumindo dessa forma a dimensão de 30,0 m2/parcela.
O delineamento experimental foi o de blocos casualizados, com três repetições por tratamento em esquema fatorial 2 x 4 (barra de pulverização convencional, ou sem auxílio e barra com assistência por uma cortina de ar - Vortex® (Figura 2) x 4 modelos de pontas de pulverização). A velocidade do ar foi mantida entre 18 e 20 km/h quando medida a 0,40 m de distância da saída da barra.
Tanto na barra com auxílio da cortina de ar (Vortex®), quanto na barra sem auxílio, foram montadas as pontas Teejet® XR 110015 (jato plano simples), Teejet® DGTJ60 110015 (jatos planos duplos), Hypro® GRD 120015 (jato plano simples com inclinação de 20º em relação à vertical) e Agrotop® Airmix 110015 (jato plano simples com indução de ar).
As pontas Hypro® GRD 120015 foram dispostas de maneira que os jatos por elas produzidos tivessem inclinação alternada (um jato inclinado em 20o para frente e outro em 20o para trás, sucessivamente), o que resultou em efeito semelhante à pontas de jatos planos duplos.
O volume de calda aplicado foi de 100 L/ha e a pressão de trabalho do pulverizador foi de 3,0 bar, garantindo o fornecimento de gotas finas nas aplicações feitas com as pontas XR 110015 e DGTJ-60 110015 e gotas de categoria média naquelas feitas com as pontas GRD 120015 e Airmix 110015.
No dia 02/10/2013 todas as parcelas, com exceção da testemunha, foram pulverizadas sob condições adequadas de umidade, temperatura e velocidade do vento, com 0,3 L/ha do fungicida azoxistrobina + ciproconazol (Priori Xtra®), adicionando-se 0,5 L/ha de adjuvante à base de óleo mineral (Nimbus®), conforme indicado pelo fabricante.
As avaliações de incidência de ferrugem foram feitas 21 dias após a aplicação dos tratamentos, quando foram coletadas 10 plantas aleatoriamente por parcela experimental. Para a quantificação da incidência de ferrugem, foram avaliadas as folhas bandeiras (FB), folhas exatamente abaixo da bandeira (FB-1) e segunda folha abaixo da bandeira (FB-2).
A partir das folhas amostradas foi determinado o percentual da incidência de folhas com presença de pústulas de ferrugem num universo de dez folhas. Os valores obtidos foram comparados com a incidência média da testemunha sem aplicação, estimando-se dessa forma, o controle da doença.
Devido às condições climáticas desfavoráveis no final do enchimento de grãos - ocorrências de chuvas intensas seguidas de ventos de alta velocidade – observou-se o completo acamamento das plantas, o que inviabilizou a colheita das parcelas. Os dados foram submetidos à análise de variância. Havendo diferenças significativas entre os mesmos, foi realizado o teste de comparação de médias de Tukey.
Ambos a 5% de probabilidade de erro. As avaliações de controle da ferrugem na folha bandeira (FB) revelaram que não houve diferenças significativas entre as pontas testadas nas aplicações feitas através da barra convencional ou auxiliada pela cortina de ar Vortex® (Tabela 1).
No entanto, a utilização da cortina de ar favoreceu o controle da ferrugem em todas as aplicações quando comparadas com aplicações realizadas através da barra convencional (Tabela 1). O percentual de controle de ferrugem na folha abaixo da bandeira (FB-1) foi influenciado tanto pela ponta de pulverização quanto pelo modelo de barra utilizado (Tabela 2).
Sem auxílio à barra, as pontas GRD 120015, produtoras de gotas médias proporcionaram melhor eficiência do que as pontas Airmix 110015 (produtoras de gotas médias, porém com indução de ar), XR 110015 e DGTJ-60 110015 (ambas produtoras de gotas finas). As aplicações feitas com auxílio da cortina de ar e utilização das pontas XR 110015, resultaram em menor controle da doença em relação às demais pontas.
Utilizando as pontas GRD 120015 (gotas médias) não se observou influência do auxílio à barra. Já as pontas DGTJ-60 110015 e Airmix 110015 demonstraram melhores resultados nas aplicações feitas através da barra auxiliada pela cortina de ar. Já a ponta XR 110015, produtora de gotas finas, demonstrou melhor controle de ferrugem na FB-1 a partir de aplicações realizadas através da barra convencional (Tabela 2).
Para o controle de ferrugem na segunda folha abaixo da bandeira (FB-2) as aplicações realizadas sem auxílio à barra com uso das pontas GRD 120015, foram as que apresentaram o melhor percentual de controle.
Já para as aplicações realizadas através da barra auxiliada pela cortina de ar, a utilização das pontas DGTJ-60 110015 demonstraram o melhor controle de ferrugem na FB-2. A pontas XR 110015 e Airmix 1101015 não foram influenciadas pela utilização de auxílio à barra (Tabela 3).
Na avaliação do controle médio da incidência de ferrugem nas folhas FB, FB-1 e FB-2 a partir de aplicações realizadas sem auxílio à barra, novamente a utilização das pontas GRD 120015 foi aquela que demonstrou o melhor percentual de controle.
Já nas aplicações realizadas através da barra auxiliada pela cortina de ar com as pontas DGTJ-60 110015, demonstraram o maior controle de ferrugem (Tabela 4). De modo geral, aplicações realizadas através da barra auxiliada pela cortina de ar com utilização das pontas DGTJ-60 110015, apresentam maior controle da incidência de ferrugem em relação às outras pontas utilizadas.
Enquanto em aplicações sem auxílio à barra, a utilização de pontas GRD 120015 favoreceu a deposição de gotas do tratamento, resultando em maior controle da incidência de ferrugem em relação às pontas XR 1101015, DGTJ-60 110015 e Airmix 110015 (Tabela 4).
A partir dos dados obtidos nesse ensaio, pode-se concluir que os efeitos da assistência à barra de pulverização dependem do modelo de ponta de pulverização e do tamanho de gotas que estas produzem.
Para aplicações de fungicidas na cultura da aveia sem utilização de assistência à barra do pulverizador, pontas de jatos planos produtoras de gotas médias e com inclinação, apresentam melhor desempenho.
Pontas que produzem gotas finas e jatos planos duplos, podem ter seu desempenho melhorado com a utilização de assistência à barra de pulverização pela cortina de ar.
Referências
AZEVEDO, L. A. S. Qualidade da aplicação de fungicidas protetores: fundamentos para o uso racional. Campinas: Emopi, 2003. p.121-32.
BOLLER, W. Tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários. Apostila preparada para o curso de pós graduação em agronomia (PPGAgro) da FAMV/UPF, Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo-RS. 2013.
CHRISTOFOLETTI, J. C. Manual Shell de máquinas e técnicas de aplicação de defensivos agrícolas. São Paulo: Shell, 1992. 124p.
FORCELINI, C. A.; REIS, E. M. Manual de fitopatologia. Doenças das plantas cultivadas. Editado por Hiroshi Kimati et al. Vol2. 4ed. São Paulo: Agronômica Ceres, 2005. 666 p.
MATTHEWS, G. A. Pesticide application methods. 3rd ed. Berkshire: International Pesticide Application Research Centre, 2000. 432p.
REIS, E. M.; CASA, R. T.; MEDEIROS, C. A. Diagnose, patometria e controle de doenças de cereais de inverno. Londrina, PR, 2001. 94p.