Novos problemas com insetos praga


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Publicado em: 30/04/2014

As pragas voltaram a causar preocupação maior na agricultura depois da ocorrência de espécies novas, da proibição de alguns agroquímicos e do lançamento de plantas geneticamente modificadas, combinado com as deficiências na identificação correta dos insetos e a falta de estudos para determinar a ocorrência de populações resistentes a inseticidas. As lagartas tornaram-se novo tormento para os produtores de soja no Brasil e nos países do Cone Sul.

Novas espécies causaram danos severos e os agricultores encontraram dificuldades no controle com os inseticidas e doses consideradas eficientes para as lagartas conhecidas em soja. A falta de taxonomistas, para a identificação de pragas e de inimigos naturais é uma evidência no Brasil, mostrando a necessidade de maior investimento na pesquisa. Além da identificação de espécies, o monitoramento de populações resistentes a inseticidas é uma necessidade para a adoção de boas práticas agrícolas, atendendo as demandas do mercado para a rastreabilidade de grãos de soja.

Identificação

A lagarta-da-soja, Anticarsia gemmatalis, continua sendo a praga mais frequente e de distribuição generalizada. A lagarta falsa-medideira, Chrysodeixis (Pseudoplusia) includens, teve ocorrência esporádica no passado e agora está entre as pragas principais em soja. Foi registrada com maior frequência e com populações resistentes a inseticidas, na Argentina e no Brasil. A lagarta-preta, Spodoptera cosmioides apareceu em populações elevadas, a partir de 2003.

Essa lagarta é, frequentemente, confundida com a Spodoptera eridanea, indicando a necessidade de pesquisa em taxonomia e em métodos de controle por espécie. Na safra de soja colhida em 2013, os danos de lagartas do gênero Helicoverpa foram severos em todas as regiões de produção de soja do Brasil. As dificuldades de controle, com reaplicações de inseticidas e aumento nas doses dos produtos foram as principais demandas de produtores de soja.

Pode-se afirmar que as lagartas passaram a ser um novo desafio para a produção de soja no País. As dificuldades iniciaram com identificação da “nova praga” como Heliothis virescens, lagarta-das-maçãs do algodão. Essa conclusão foi precipitada, pois, os insetos não mudam hábitos alimentares, saindo do algodão e passando para soja e, ao mesmo tempo, tornando-se resistente a inseticidas de vários grupos químicos. Além disso, a lagarta passou a ocorrer de forma generalizada no Sul do Brasil, onde não há algodão e a H. virescens não é citada em lavouras extensivas.

Os insetos apresentam hábitos alimentares definidos com raros casos de mudança repentina de hospedeiro e de outras características biológicas. A lagarta Heliothis virescens é citada e estabelecida há dezenas de anos como praga em algodão, fumo, tomate, mas não é considerada praga em soja, cultivada no mesmo ambiente. Da mesma forma, Helicoverpa zea, lagarta-da-espiga do milho, não mudaria de hábitos ou passaria para a soja por causa do milho Bt, uma lógica fantasiosa.

Em março de 2013, o Presidente da Embrapa anunciou a identificação da espécie coletada no Centro Oeste do Brasileiro, como sendo Spodoptera armigera. Essa espécie ocorre em países do Hemisfério Norte e é considerada nova no Brasil. A constatação da nova espécie explica as características de hábitos alimentares e hospedeiros diferentes, causando danos em soja, feijão e outras culturas. Também explica as dificuldades no controle da praga, com o uso dos inseticidas conhecidos e eficientes para outras lagartas.

Com base em pesquisa realizada na Argentina, desde 2009 ocorreram populações elevadas da lagarta denominada de “bolillera” e identificada por taxonomistas como Helicoverpa gelotopoeon. A espécie foi descrita por Dyar, em 1921 e citada como nativa na América do Sul, especialmente Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai e Sul do Brasil. No Brasil, essa espécie foi reportada por Ceslau Biezanko, em Pelotas, no ano de 1952 e Dionísio Link, de Santa Maria, em 1972. Ela foi constatada como lagarta esporádica em soja, desde a década de 1970, é citada como praga na cultura, desde a safra de 2007, no Rio Grande do Sul.

Com base no conhecimento disponível, acredita-se que existem duas espécies consideradas novas em soja. A Helicoverpa armigera, na região de clima tropical (Cerrados, Centro Oeste, Nordeste e Centro Sul). No Sul do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai acredita-se que a espécie predominante seja H. gelotopoeon, podendo ocorrer também H. armigera. Danos As lagartas consomem a quantidade de alimento necessária para armazenar energia e passar as fases de pupa e adulto para reprodução, que corresponde a área foliar aproximada de 150 cm2. As lagartas do gênero Helicoverpa causam danos em todas as fases da planta, confundindo com as características de outras espécies. Iniciam como cortadoras de plântulas, confundindo com o dano de lagartarosca. As injúrias ocorrem desde a germinação da soja, indicando que a postura pode ser realizada em plantas daninhas ou no ambiente, antes da emergência da cultura principal. Outro dano característico ocorre nas folhas jovens, quando a lagarta se aloja dentro do folíolo, juntando o limbo foliar com fios de teia, permanecendo protegida e oculta.

Nessa fase causa confusão com a lagarta-enroladeira de folhas, Omioides indicata. Também se alimenta de rácemos e pode perfurar o caule, confundindo com o dano da brocadas-ponteiras, Epinotia aporema. A oviposição é individual e em folhas jovens, onde as larvas preferem se alimentar, caracterizando a dificuldade de controle, pois nenhum inseticida aplicado em soja é capaz de penetrar na planta, circular com a seiva e proteger folhas jovens, formadas depois da aplicação.

A capacidade de consumo e a necessidade alimentar da Helicoverpa, da Chrysodeixis e da Spodoptera, na fase vegetativa das plantas, são semelhantes ao da lagarta-da-soja, Anticarsia gemmatalis. As diferenças estão na localização das lagartas no dossel da planta e na preferência pelo consumo de folhas, grãos ou brotos. Estudos realizados na Argentina indicam que cada lagarta H. gelotopoeon consome em média 10 grãos, podendo chegar a 18 grãos. A perda de 37 grãos/m2, corresponde a 60 kg de soja por hectare.

Porém, a análise não deve ser feita, apenas pela capacidade de consumo de grãos, pois a planta compensa perdas, aumentando o peso de outros grãos no mesmo rácemo ou na planta. De qualquer maneira, a capacidade de consumir o broto, as folhas e os grãos em formação, caracteriza uma praga diferenciada e exige identificação correta, monitoramento de populações e decisão de controle com inseticidas e doses mais eficientes.

Controle e inseticidas

A aplicação de inseticidas é a prática mais frequente no controle de lagartas em soja e de domínio do agricultor. As dúvidas estão na eficácia dos produtos disponíveis no mercado, que eram eficientes para evitar a ressurgência de populações. O uso de misturas de produtos amplia o espectro de ação eliminando inimigos naturais e facilitando a reaparecimento da praga e o estabelecimento de insetos secundários como praga na lavoura. A dificuldade de aplicar inseticidas na parte mediana e inferior do dossel da planta dificulta a obtenção de resultados positivos no controle das lagartas do gênero Helicoverpa e também da falsa-medideira. Essa localização da lagarta, em partes de difícil acesso com a tecnologia de aplicação de inseticidas.

A explosão de populações de pragas secundárias pode estar relacionada ao significativo aumento de área cultivada com soja, desde a Argentina até a Amazônia, com lavouras contínuas e semeadas na mesma época. Outro fator pode estar relacionado ao uso de fungicidas para controle de ferrugem e doenças em soja, que podem estar afetando as populações de fungos benéficos, causadores de controle biológico natural de lagartas, ácaros e outras pragas, consideradas de menor frequência e severidade, no passado. Para controle de lagartas em soja é importante identificar as espécies e determinar o tamanho das populações e dos estádios de desenvolvimento da fase de larva. Lagartas pequenas são de mais fácil controle com inseticidas denominados fisiológicos.

Há diferença significativa de dose para controle eficaz de diferentes espécies e estádios de desenvolvimento. Uma das alternativas é agrupar as lagartas e adotar doses e produtos conforme a frequência das espécies. A lagarta da soja, Anticarsia gemmatalis é a mais fácil de controlar e as doses normais tem eficiência comprovada. As lagartas pretas, Spodoptera cosmioides e Spodoptera eridanea, formam um grupo intermediário na escala de dificuldade de controle, pela localização na parte mediana da planta e pelas características de doses mais elevadas de inseticidas, em relação a lagarta comum da soja. O grupo das falsas-medideiras, Chrysodeixis, tem respostas erráticas de controle.

Na Argentina comprovou-se a ocorrência de populações resistentes aos principais grupos de inseticidas. Como essas lagartas ocorrem em hortaliças, algodão e outras culturas, com uso frequente de inseticidas, pode se considerar a hipótese da presença de populações resistentes no Brasil, também. As lagartas mais difíceis de controlar são as do gênero Helicoverpa e Chrysodeixis, tanto na Argentina, como no Sul, Centro Oeste e Norte do Brasil. Faltam dados consistentes para identificação das espécies e, principalmente, dados de pesquisa comparando inseticidas e doses mais eficientes para cada espécie. Na safra 2012-13, de forma geral, houve dificuldade de controle, mesmo com doses elevadas, considerando as usadas no passado. A mariposa de Helicoverpa realiza a postura nas folhas jovens, nas ponteiras e na fase de crescimento vegetativo da soja, entre v6 e v16, o período de formação de cada folha ocorre entre 2 e 3 dias. Por isso, se constata a ocorrência da lagarta poucos dias depois da aplicação.

A folha formada depois da aplicação de inseticida, não tem possibilidade de ser protegida contra pragas, via sistêmica ou por formação de gases. É importante destacar que, em 2013, os inseticidas disponíveis no mercado não têm registro, nem dose eficiente comprovada, para controle de H. gelotopoeon ou H. armigera. Os novos grupos de inseticidas como as antranilamidas (clorantraniliprole - Premio, rinaxapir), as diamidas (flubendiamida - Belt) e as espinosinas (espinosade - Tracer) são lagarticidas eficientes e controlam as lagartas, porém, em doses mais elevadas para Helicoverpa e Chrysodeixis. Os inimigos naturais de Helicoverpa são pouco conhecidos.

No Brasil foi encontrado o parsitóide de lagarta (Campoletis sp.) que é citado na Argentina, onde também são destacadas as formigas predadoras como inimigos naturais importantes. para as pragas conhecidas e foram insatisfatórias para as lagartas dos gêneros Helicoverpa e Chrysodeixis. A escolha de inseticidas mais seletivos é uma prática importante.