Densidade agronômica ótima para altas produtividades de milho em híbridos modernos


Autores: Alexandre Ferigolo Alves, Bruna San Martin Rolim Ribeiro, Alencar Junior Zanon, Nereu Augusto Streck, Eduardo Daniel Friedrich, Isabela Bulegon Pilecco, Simone Puntel, Luiz Felipe Vieira Sarmento, Ijésica Luana Streck, Victória Brittes, Tiago Melingue Silveira, Guilherme Silveira Acosta, Artur Anselmi Duarte Costa, Luiz Otávio Ceolin Polo, Luana Bueno Longaray, Mikael Blaskowski Menin, Matheus Leite Vasconcellos, Amanda Muller Venzke, João Vitor Bierhals Furtado e Pedro Henrique de Souza Aguiar
Publicado em: 31/12/2020

1 Introdução

O milho (Zea mays L) é o segundo grão mais produzido no Brasil, sendo superado em quantidade produzida apenas pela soja. O país é o terceiro maior produtor mundial de milho, tendo produção inferior, somente, aos Estados Unidos e à China (USDA, 2020). Através do melhoramento genético da cultura do milho, algumas características foram alteradas nas plantas para adaptarem-se as práticas de manejo, como maior adensamento e menor espaçamento.

A produtividade de milho, em híbridos modernos, teve aumento significativo ao longo dos últimos anos, principalmente devido à maior densidade de plantas (TOLLENAAR; LEE, 2002; ASSEFA et al., 2018). A densidade agronômica ótima (DAO) é considerada a densidade que proporciona a maior produtividade de uma cultura. Para o milho, este valor sofre contínuas alterações, por exemplo, nos anos de 1970, 1980, e 1990 os valores encontrados para a DAO foram de 7,1, 7,9 e 8,5 plantas m-2, respectivamente (SANGOI et al., 2002; ASSEFA et al., 2018).

Mudanças realizadas pelo melhoramento genético, principalmente na estrutura da planta, possibilitaram aumentos na eficiência de produção de grãos, mesmo com elevada competição intraespecífica, resultante do uso de altas populações de plantas.

As cultivares modernas perderam a capacidade de perfilhamento, compensando variações na população de plantas com adaptações nas espigas, aumentando ou diminuindo o número de grãos, representado pela massa da espiga na. Por outro lado, cultivares antigas, ao serem submetidas a altas densidades, apresentam redução na produtividade (ECHARTE et al., 2000; MADDONNI; OTEGUI; CIRILO, 2001; VEGA; ANDRADE; SADRAS, 2001; MASCAGNI; BELL, 2004; DUVICK; SMITH; COOPER, 2004).

A busca pela DAO é constante. Diante disso, a Equipe FieldCrops buscou conhecer através de experimento realizado em lavoura comercial no Sul do Brasil a densidade agronômica ótima para altas produtividades.

2 Materiais e Métodos

Para identificar a densidade agronômica ótima foi conduzido experimento em lavoura comercial, no município de Júlio de Castilhos no RS, na primeira safra do ano agrícola 2019/20. As densidades avaliadas foram 60, 80, 100, 120 e 140 mil plantas/ ha. O manejo para todas densidades testadas seguiu o mesmo, de acordo com a exigência da cultura.

3 Resultados e Discussão

A DAO, obtida neste experimento, foi de 100 mil plantas/ha para atingir potencial produtivo de 18,4 ton/ha (Figura 2). A Equipe FieldCrops encontrou a mesma tendência mencionada por Assefa et al.

, (2018) quando investigaram a densidade agronômica ótima, quantificando a contribuição das plantas para o aumento da produtividade.

Constataram através de ensaios na América do Norte de 1987 até 2016, DAO variando de 75 mil plantas/ha, no primeiro período de avaliação (1987-1991), à 93 mil plantas/ha, no último intervalo (2012-2016), com produtividades de 9,3 a 12,7 ton/ha, respectivamente (Figura 2). Esses resultados reafirmam que o potencial produtivo de milho vem aumentando ao longo dos anos devido à maior densidade de plantas.

Clima, solo, nutrientes e disponibilidade de água também são responsáveis por alterações na relação entre a produtividade e a DAO, de forma que o ponto ótimo é definido pela limitação destes recursos (SANGOI, 2001; SILVA et al., 2010; ASSEFA et al., 2016). Teoricamente, a maior quantidade de plantas em determinado ambiente deveria apresentar respostas positivas lineares, ou seja, ao aumentar a densidade de plantas a produtividade deveria ser incrementada, porém a interação genética, ambiente e manejo muitas vezes não permite que isso ocorra.

Para se obter altas produtividades se faz necessário aumentar a interceptação de radiação solar no dossel da cultura, buscando a DAO. O balanço entre a fonte e o dreno energético nas plantas também sofre alterações com a variação na densidade populacional.

Em situações de baixas densidades, a radiação solar se torna excedente para a planta, não sendo aproveitada para a produção e armazenamento de fotoassimilados, assim o que limita a produtividade da lavoura é a falta de plantas (LIU; TOLLENAAR, 2009).

Na figura 3 são apresentadas as variações de luminosidade dentro do dossel vegetativo. Em contrapartida, o uso de densidades supra ótimas ocasiona o aumento do sombreamento intraespecífico. Desta forma, a quantidade de radiação interceptada pelo dossel vegetativo é convertida a um pequeno saldo de fotoassimilados destinado para o armazenamento dos grãos e acúmulo de matéria seca por planta (GONZALEZ et al., 2018). Em altas densidades pode ocorrer a aceleração da senescência das folhas do terço inferior, devido à alta competição entre plantas (Figura 4).

Vale salientar que, a variação da produtividade de grãos em função da densidade de plantas está também relacionada ao ambiente de produção. Se o ambiente de produção apresentar outros fatores limitantes para cultura, as cultivares modernas poderão não responder em maior produtividade as altas densidades, o que nos instiga investigar os fatores que estão interferindo, antes de aumentar a densidade de plantas, mostrando que a interação genética, ambiente e manejo regula a produtividade (RIBEIRO et al., 2020).

4 Conclusão

A densidade agronômica ótima encontrada neste estudo foi de 100 mil plantas/ha para atingir potencial produtivo de 18,4 ton/ha.

Referências

ASSEFA, Y. et al. Analysis of long term study indicates both agronomic optimal plant density and increase maize yield per plant contributed to yield gain. Scientific Reports, v. 8, n. 4937, 2018.

ASSEFA, Y. et al. Yield responses to planting density for US modern corn hybrids: a synthesis-analysis. Crop Science, v. 56, p. 2802-2817, 2016.

DUVICK, D. N.; SMITH, J. S. C.; COOPER, M. Changes in performance, parentage, and genetic diversity of successful corn hybrids, 1930–2000. In: Corn origin, history, technology, and production. Hoboken, NJ: John Wiley & Sons, 2004. p. 65–97.

ECHARTE, L. et al. Response of maize kernel number to plant population in Argentinean hybrids released between 1965 and 1993. Field Crops Research, v. 68, n. 1, p. 1-8, 2000.

GONZALEZ, V. H. et al. Maize yield potential and density tolerance. Crop Science, v. 58, p. 472-485, 2018.

LIU, W.; TOLLENAAR, M. Response of yield heterosis to increasing plant density in maize. Crop Science, v. 49, n. 5, p. 1807-1816, 2009.

MADDONNI, G. A.; OTEGUI, M. E.; CIRILO, A. G. Plant population density, row spacing and hybrid effects on maize canopy architecture and light attenuation. Field Crops Research, v. 71, n. 3, p. 183-193, 2001.

MASCAGNI, R.; BELL, R. Flex-ear, fixed-ear corn and optimum plant population. Louisiana Agriculture, Baton Rouge, LA, v. 47, n. 3, p. 9-10, 2004.

RIBEIRO, S. M. R., et al. Ecofisiologia do milho visando altas produtividades. Ed. Palloti, 2020. 202p.

SANGOI, L. et al. Response of Brazilian maize hybrids from different ears to changes in plant density. Field Crops Research, v. 79, n. 1, p. 39-51, 2002.

SANGOI, L. Understanding plant density effects on maize growth and development: an important issue to maximize grain yield. Ciência Rural, Santa Maria, RS, v. 31, n. 1, p. 159–168, 2001.

SILVA, P. R. F. et al. Adequação da densidade de plantas à época de semeadura em milho irrigado. Revista de Ciências Agroveterinárias, Lages, SC, v. 9, n. 1, p. 48-57, 2010.

TOLLENAAR, M. LEE, E. A. Yield potential, yield stability and stress tolerance in maize. Field Crops Research, v. 75, n. 2-3, p. 161-169, 2002.

USDA [United States Department of Agriculture]. Production, Supply and Distribution Online. Disponível em: https://apps.fas.usda.gov/psdonline/app/index.html#/app/home. Acesso em: 25 mar. 2020.

VEGA, C. R. C.; ANDRADE, F. H.; SADRAS, V. O. Reproductive partitioning and seedset efficiency in soybean, sunflower and maize. Field Crops Research, v. 72, n. 3, p. 163-175, 2001.