Queimar a palha ou arar o solo, o que é pior?


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Publicado em: 30/06/2012

O plantio direto determinou significativas mudanças na agricultura e pode ser considerado entre as mais importantes revoluções no uso da terra para a produção de alimentos. No passado, a aração, a escarificação e a gradagem formaram a base de preparação de solos e foram os componentes da margem de contribuição de maior desembolso na produção de grãos e os de maior consumo de combustível.

Em meados da década de 1970 iniciaram os movimentos para o plantio direto e outras ações isoladas, como as da Associação de Engenheiros-agrônomos e da gerência da carteira agrícola do Banco do Brasil de Santa Rosa, RS, que acertaram compromisso “informal”, dando primazia à liberação de crédito aos agricultores que não queimavam a palha e aos que apresentavam receita agronômica, para o uso de inseticidas nas lavouras. Esse foi o embrião que resultou na proibição da queima de palha e na implantação do Receituário Agronômico para uso de defensivos agrícolas.

Hoje, a queima da palha é proibida e passível de punição. Essa prática causa prejuízos diretos ao liberar em torno de 90% da composição da matéria orgânica seca para a atmosfera (C, H, O e N) e pela formação de CO2. O Carbono liberado do material orgânico, ao combinar-se com o Oxigênio, resulta em 3,66 vezes o seu peso em CO2 na atmosfera. Os teores de sais e de elementos minerais (K, P, Ca, Mg, S, Fe, Mn, Mo, Zn, B, Cl, Cu e outros), resultam em cinzas e variam entre 6% e 12% da composição da biomassa seca.

A falta do Carbono e do Nitrogênio afeta e compromete diretamente os processos físicos e biológicos da fertilidade do solo. Que, por sua vez influenciam a armazenagem de água e a absorção de nutrientes por fluxo de massa, pelas raízes. A aração, a escarificação e a gradagem resultam na desestruturação do solo, na produção de macroporos e na diminuição de microporos, diminuindo a retenção de água. Eles destroem a estrutura de poros estabelecida por raízes, minhocas, insetos e microrganismos.

O uso desses equipamentos de preparo e o passeio de máquinas são considerados os fatores de compactação de solos. Depois da adoção do plantio direto, o controle de tráfego e a produção de raízes são os desafios para recuperar os processos físicos e biológicos da fertilidade do solo. Em solos arados e sem cobertura, o impacto direto das gotas de chuvas desestrutura as partículas agregadas, formando crostas, que diminuem a infiltração de água e aumentam a perda por escorrimento, causando enxurradas. As temperaturas da superfície desnuda de solos chegam a 70ºC, nas horas mais quentes do dia, limitando o desenvolvimento de raízes e da fauna benéfica e, aumentando a evaporação.

A palha na superfície absorve a inércia do impacto das gotas de chuvas. As raízes produzem exsudatos, formam glomalina e criam estrutura física para a infiltração e a armazenagem de água, disponibilizando a para as culturas seguintes. As raízes de plantas nunca compactam o solo, ao contrário, constroem os processos físicos e biológicos da fertilidade do solo. A aração destrói esses processos naturais.

Na era em que se preconiza a “sócio-eco-eficiência” e a “sustentabilidade”, como base na produção de lavouras, a queima da palha é proibida e tem legislação que pune os infratores. Em contraste, nada existe sobre o uso de arados, escarificadores e grades. Com base nos prejuízos nos processos físicos e biológicos da fertilidade do solo, a aração deveria ser regulamentada e ter restrições semelhantes aos da queima de palha.

O plantio direto, combinado com a cobertura permanente do solo, a rotação de culturas e o controle de tráfego formam a base das boas práticas agrícolas e do manejo de recursos naturais para atender as demandas por alimentos. Portanto, a alternativa mais coerente para produzir preservando é manter a palha na superfície e impedir a agressão ao solo pelo uso de arados, grades ou escarificadores.