Manejo de outono, depois da colheita de verão


Autores:
Publicado em: 30/04/2012

Nos sistemas de produção de grãos, o período do outono, não é de descanso ou de férias, mas o mais importante para o manejo de plantas daninhas resistentes a herbicidas, a adubação verde, a amostragem de solo, a correção de fertilidade e a aplicação de calcário. Essa é a fase decisiva de preparação de lavouras planejadas para sistemas de altos rendimentos. As perguntas mais frequentes estão relacionadas com a semeadura de espécies para cobertura vegetal, à relação entre o custo e o beneficio e aos processos que devem ser praticados nesse período.

Com a antecipação das colheitas de soja e milho, nos últimos anos, aumentou o período de tempo para produção de biomassa vegetal, por meio da adubação verde. Por outro lado, o pousio outonal prolongado, facilitou o estabelecimento e a sobrevivência de plantas daninhas de difícil controle e a produção de sementes indesejadas.

Período de atividades outonais

A evolução de novas cultivares de soja e milho, com ciclo mais precoce, permite a semeadura antecipada, posicionando a fase de enchimento de grãos no início do verão (janeiro e fevereiro). Com isso, a colheita foi antecipada em três e quatro semanas, em relação ao manejo adotado antes de 2005. Assim, aumentou o período de tempo depois da colheita de verão para uma cultura de safrinha ou para a cobertura de solos e adubação verde.

Deixar as áreas de lavouras em pousio, ou sem cobertura semeada, permite o estabelecimento das plantas daninhas que sobreviveram ao sistema de controle adotado na safra anterior. Essas plantas terão toda a fertilidade do solo, a umidade e a radiação solar para a máxima produção de sementes. Esse ambiente também é favorável para a sobrevivência de pragas de solo (grilos, corós, nematóides, percevejos...) e para patógenos necrotróficos, que sobrevivem nos restos culturais e infestarão a cultura na safra seguinte.

Colher e plantar pode ser considerado a regra geral para os processos químicos, físicos e biológicos da fertilidade do solo. Também é a forma de supressão de populações de pragas, patógenos e plantas daninhas. A semeadura deveria ser feita imediatamente depois da colheita para obter maior produção de biomassa no período outonal. Em países da Europa agricultores adaptam distribuidores de sementes na parte posterior da plataforma ou sob a colhedora de grãos, permitindo a cobertura com a distribuição de palha.

Outros produtores adotam o sistema de sobressemeadura, fazendo a distribuição de sementes na cultura de verão, em torno de três a quatro semanas antes da colheita. Com isso, permitindo a germinação, estabelecimento inicial e rápido crescimento vegetativo depois da colheita. Nos cerrados, está sendo adotado o sistema Santa Fé, combinando a semeadura de milho com a braquiária. Existe grande número de plantas que podem ser semeadas no fim do verão e outono. As tradicionais são o nabo-forrageiro, a aveia, o milheto e pastagens.

Benefícios da adubação verde

Entre os benefícios diretos e mensuráveis da adubação verde se destacam a produção de palha e raízes e a ciclagem de nutrientes. Deve-se considerar que o material orgânico seco, resultado da biomassa produzida, tem a composição aproximada de 90% de elementos (C, H, O e N) que podem se tornar gasosos no processo de decomposição, restando 10% de sais e minerais. Para manter os elementos gasosos ativos no solo, eles devem ser constantemente ciclados com o cultivo de vegetais, evitando períodos prolongados de pousio de vegetação. Estima-se que a produção de 500g de matéria seca/m2, equivalente a 5 toneladas por hectare, resultará na ciclagem de 500 kg de sais e elementos minerais e aproximadamente 125 kg de N. A principal forma de armazenar e de ciclar nitrogênio no solo é na composição de biomassa e na manutenção de material orgânico no solo.

Distribuição de palha na colhedora

O processo de distribuição de palha na colheita influenciará o estabelecimento de plantas daninhas, distribuição de nutrientes e a qualidade de semeadura da cultura na sequência. A regulagem do distribuidor de palha, na colhedora, é importante para a qualidade de semeadura da cultura seguinte. A palha distribuída em faixas dificulta a regulagem da semeadora e, principalmente, a deposição de sementes para germinação de culturas para adubação verde no outono e de cereais de inverno. Com as plataformas de tamanho maior, aumentaram as dificuldades para esparramar a palha. São raras as lavouras que apresentam distribuição de palha aceitável.

Formigas e pragas de solo

O período de outono, depois da colheita de verão, é o melhor para controle de formigas cortadeiras. Os insetos andam longas distâncias para encontrar alimento adequado para o cultivo de fungos, tornando mais fácil a localização dos ninhos e a aumentando a possibilidade de consumo de iscas formicidas. O período de primavera é o mais inadequado para controle de formigas por causa da revoada, com disseminação de rainhas e instalação de novos formigueiros e pela maior quantidade de plantas vegetando, como alimento para os insetos.

As plantas daninhas no outono

O pousio de outono permite o rebrote de buva, leiteiro, guanxuma, capim amargoso e o crescimento de poaia, trapoeraba e espécies esporádicas. Com base em estimativas visuais, registradas em viagens às regiões produtoras do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e oeste do Paraná, em abril de 2012, menos de 5% das áreas cultivadas com soja e milho no verão apresentavam alguma cobertura vegetal semeada.

Também eram raras as lavouras com uniformidade mínima na distribuição de palha, que permitisse semeadura de qualidade. Com base nessas observações pode-se afirmar que predomina o processo de plantio direto, como semeadura sem arar. Porém, falhando nos processos de cobertura permanente do solo e na rotação de culturas. Com o predomínio de áreas de pousio, as plantas daninhas resistentes a herbicidas e as de difícil controle se estabelecem nas lavouras, produzindo grandes quantidades de sementes.