Qual a ordem mais adequada para adição de produtos na mistura em tanque para cultura da soja?


Autores:

Mariah Dupont Mattei

Publicado em: 31/08/2020

O cultivo da soja conta atualmente com inúmeros tipos de insumos e tecnologias com o objetivo de proteger de pragas e patógenos, nutrir, estimular a fisiologia, melhorar a qualidade da tecnologia de aplicação, entre outros efeitos. Não são raras situações em que agricultores misturam até 8 produtos diferentes na mesma calda de pulverização.

Há, com certeza, implicâncias técnicas em misturar tantos defensivos, como antagonismos e incompatibilidades físico-químicas. Porém, quando pensamos no aumento do custo de produção caso fossemos aplicar isoladamente cada produto, seria inviável o uso de tantos insumos.

Por isso, surge a dúvida entre muitos agricultores e técnicos quanto à ordem de adição de produtos no tanque, buscando minimizar problemas na mistura. Por isso, nesse texto, apresentamos uma sequência simples que sugere a ordem de adição de tipos de produtos no tanque, com base nas formulações, mas que deve ser usada apenas como indicação, não como regra.

Na sequência apresentamos a sistematização das informações sobre misturas em tanque, organizada pela Coordenadora de Tecnologia de Aplicação da Cotrijal, de Não-Me-Toque/RS, Engenheira Agrônoma Mariah Dupont Mattei.

Ordem de adição de produtos no tanque

As misturas em tanque trazem inúmeros benefícios como agilidade do processo, economia de tempo, diesel, menor compactação, porém, essa prática ainda é um desafio para os agricultores no Brasil. Embora sejam permitidas de acordo com a IN nº40, de 11/10/2018 desde que com as recomendações de um(a) Engenheiro(a) Agrônomo(a), há poucas informações de pesquisa disponíveis que auxiliem na tomada de decisão, ainda mais quando se trata de misturas com produtos fornecidos por empresas diferentes.

A Cotrijal desenvolve protocolos internos na área experimental de mistura e performance dos produtos para melhor recomendação da ordem de adição no tanque Além da formulação do produto, ingredientes inertes que são adicionados às formulações, qualidade da água utilizada (pH, dureza, presença de partículas de argila, temperatura) também impactam a formação da calda.

Portanto, com tantas interferências, não é possível generalizar através de uma sequência que as misturas de tantos produtos (mesmo que de mesmo princípio ativo) sejam realizadas da mesma forma. As tabelas podem servir para nortear, mas para compreender efetivamente a sequência mais adequada a ser realizada, recomenda-se o teste da jarra, que simula a mistura do tanque em um recipiente com as quantidades proporcionais ao que seria aplicado no campo.

Executa-se a mistura exatamente na sequência que se pretende fazer no tanque do pulverizador, numa proporção 100 vezes menor (volume por hectare divido por 100, bem como as doses dos produtos). Depois da adição e agitação – simulando a agitação do pulverizador da fazenda – deixa-se a calda em repouso. Com auxílio de cronômetro, a cada minuto avalia-se a estabilidade da calda.

Quando a mistura realizada se desagregar no primeiro minuto em repouso, faz-se necessária a alteração da ordem adicionada e uma nova tentativa, até que fisicamente se encontre a homogeneidade e estabilidade.

Alguns produtos possuem formulações complexas para solubilização, ao exemplo do WG (grânulos dispersíveis em água) que é o caso do mancozebe. Para sua melhor performance, é recomendada averiguação da agitação do tanque do equipamento que, muitas vezes pode ser deficitária. A adição do defensivo deve ser realizada vagarosamente, em concomitância a mistura a todo momento.

Grande parte dos problemas físicos de misturas são resolvidos com boa agitação constante. Óleos minerais devem ter em sua composição emulsificantes dispersan- tes que auxiliam a dissolução em água.

Caso não possuam, não irão solubilizar-se, sendo pertinente a adição de adjuvantes surfactantes específicos. Formulações WP (pó mo- lhável, onde o ingrediente ativo é disperso em talco ou argila) não formam mistura, ficando em suspensão na calda. Para sua utilização é crucial realizar pré-diluição antes do depósito dentro do tanque do pulverizador, bem como manter a boa agitação constante e ininterrupta.

De forma geral, sugere-se que primeiramente sejam adicionados os produtos de maior complexidade na diluição, ou seja, formulações em pó e grânulos - produtos sólidos mais volumosos, em sequência menos volumosos, após adjuvantes e formulações mais solúveis. Por último as soluções verdadeiras (nutrientes) e óleos menos emulsionáveis.

É crucial a realização de testes em menor escala, logo, a orientação técnica do consultor. Sempre que possível, realizar pré-mistura e utilizar água limpa com temperatura acima de 15°C.