Como evoluíram as semeadoras-adubadoras para o Sistema Plantio Direto no Brasil (parte 2)


Autores: Ruy Casão Jr.
Publicado em: 30/06/2020

Consolidação da evolução Sistema Plantio Direto

Neste período ocorria a expansão de grandes lavouras nos solos planos do Cerrado que gerou a necessidade de máquinas com maior número de linhas, ou unidades de semeadura (Figura 9). No sul do Brasil os modelos mais comuns tinham, predominantemente, de 7 a 9 linhas, sendo que no cerrado variavam de 11 a 19 linhas, existindo modelos com 29 linhas espaçadas a 45 cm. A autonomia principalmente do depósito de fertilizante que permitia a máquina semear em torno de 10 km aumentou para 20 a 30 km, elevando o peso da máquina e, consequentemente, a exigência de potência e a mobilização do solo.

Destaca-se que no Cerrado, salvo exceções, os solos são mais leves que os argilosos do sul do país e, em muitas propriedades de médio e grande porte do sul, as semeadoras de precisão seguiram também a tendência das do Cerrado, aumentando o número de linhas e a autonomia dos depósitos de fertilizante.

A exigência de força e potência para tracionar uma semeadora depende do projeto dos componentes de ataque ao solo, em especial das hastes sulcadoras, do peso da máquina e o número, peso e área de componentes em contato com o solo. A figura 10 mostra que com o aumento do peso das semeadoras, há tendência de aumento da potência exigida. Este estudo foi realizado com os parâmetros obtidos em várias avaliações realizadas pelo IAPAR (CASÃO JUNIOR & SIQUEIRA, 2006).

Da análise dos catálogos de nove fabricantes líderes de semeadoras comercializadas e 2007 para as médias e grandes propriedades brasileiras, nota-se que o peso da máquina vazia por linha varia de 294 a 778 kg. Essas máquinas variam de 7 a 24 linhas espaçadas de 45 cm, sendo que quase todos os fabricantes possuem modelos mais leves e outros mais pesados.

A escolha entre o uso dos discos ou as hastes sulcadoras como abridor de sulco para fertilizante, depende de vários fatores. Geralmente, ficam logo atrás do disco de corte (Figura 11) e devem abrir o sulco para a deposição do fertilizante. Os discos podem ser duplos e desencontrados, ou simples. Neste caso, também faz o papel do disco de corte.

Recomenda-se utilizar os discos em solos com menor resistência, como os não arenosos e sem adensamento superficial. Os discos exigem menos potência que as hastes sulcadoras, destroem menos a palha e, de modo geral, permitem que se trabalhe a velocidades superiores a 6 km/h. No entanto, quando não conseguem abrir adequadamente o sulco, podem prejudicar a implantação das sementes, semeando muito raso, junto ao fertilizante e, em consequência, prejudicar a germinação.

Hoje, quase todas as semeadoras de precisão (plantadeiras) possuem a opção de trabalho com discos ou com hastes sulcadoras (Figura 12a). As hastes, apesar de exigirem maior potência, permitem regular a profundidade do sulco, depositar o fertilizante abaixo das sementes e oferecer um ambiente mais adequado para a germinação das sementes. O IAPAR recomenda hastes estreitas, com largura da ponteira não superior a 22 mm, um ângulo de ataque da ponteira de 200 e um desenho parabólico (Figura 12b).

Hastes com essas características exigem menos esforço e potência para tração, mobilizam menos o solo, destroem menos a palha e têm um componente de força vertical para baixo, que puxa a máquina em direção do solo, reduzindo as necessidades de maior peso da semeadora e maior pressão nas molas.

Após o trabalho dos rompedores de solo, inicia a atuação dos componentes de acabamento de semeadura. A deposição das sementes, geralmente feita no interior do disco duplo, deve permanecer na profundidade desejada, a distâncias uniformes, recobertas com solo e palha sobre o sulco. Da mesma forma, as sementes devem estar em íntimo contato comas partículas de solo para que absorvam água com facilidade, sem ocorrência de bolsões de ar e crostas formadas pelo selamento da superfície do solo. Esta é a fase que chamamos de acabamento de semeadura. Em primeiro lugar, o que se deseja é que a palha existente sobre a superfície do solo permaneça sobre o mesmo após a passagem da “plantadeira”, ou seja, o “plantio direto invisível”, sendo que muitos sabem dos benefícios dessa palha e das pesquisas já realizadas com plantas de cobertura. A figura 13 mostra no RS a semeadora Premium da Vence Tudo trabalhando sobre grande quantidade de palha sobre o solo implantando a soja no conceito “plantio direto invisível”.

A maioria das “plantadeiras” existentes no mercado nacional não possuem componentes aterradores especializados. O que predomina são máquinas com discos duplos desencontrados para abertura de sulco e com rodas paralelas de controle de profundidade para sementes, sendo as mais modernas oscilantes, seguidas de uma roda compactadora em “V”, com possibilidade de alterar sua abertura frontal e vertical, mas não conseguem retornar principalmente a palha de volta ao sulco. No início do segundo milênio (2003) têm surgido mais fabricantes preocupados com esses componentes.

A melhor alternativa para chegamento de solo e palha ao sulco são os discos aterradores muito usados no passado no sistema de semeadura convencional (CASÃO JUNIOR & SIQUEIRA, 2006). Quatro fabricantes usavam em suas “plantadeiras”.

Outra alternativa utilizada por seis fabricantes, são as rodas aterradoras de formato cônico e inclinadas 200 a 250 em relação à direção de deslocamento da máquina. Podem ser de ferro fundido, estampado ou recobertas com borracha. Outros fabricantes têm o componente, mas a regulagem de abertura não é muito superior a 100 (CASÃO JUNIOR & SIQUEIRA, 2006).

Após o aterramento há necessidade de que ocorra uma compactação do solo sobre as sementes, para que estas absorvam água com mais facilidade. São as rodas compactadoras as responsáveis por esta tarefa. Existem vários modelos no mercado, que devem evitar que ocorram bolsões de ar e selamento superficial sobre o terreno. A figura 14 pode-se observar algumas opções de rodas compactadoras na multissemeadora Multipla da Jumil.

O sistema de distribuição de sementes das semeadoras nacionais, predominante em 2007, era o mecânico, com discos alveolados, mas o sistema pneumático encontrava-se em expansão, considerando que promove distribuição mais uniforme de sementes em velocidades superiores a 8 km/h. O entrave para a expansão do sistema pneumático encontra-se no maior preço, e na dificuldade da semeadora trabalhar adequadamente a velocidades superiores a 6 km/h, cortando a palha, abrindo e fechando o sulco com a deposição adequada de fertilizante e sementes com posterior acabamento da semeadura.

O catálogo de preços de uma importante empresa de máquinas semeadoras mostrava em 2007 que os modelos pneumáticos eram 20% mais caros do que os modelos de distribuição de sementes mecânicos. A título de exemplo, a variação de preços das semeadoras para médios e grandes produtores de duas outras indústrias é de R$ 6.180,00 e R$ 7.049,00 por linha, nos modelos mais baratos e R$ 16.324,00 por linha no modelo mais caros, de ambas.

Portella da EMBRAPA conta que “a Jumil foi a primeira a trazer o sistema pneumático com o modelo Francês da Monossem (Figura 15a). A máquina foi avaliada em 1995 e 96, e a partir daí as outras indústrias cresceram o olho e foram introduzindo os sistemas da Accord, Becker, e Gaspardo”.

Paulo Montagner da Kuhn/ Metasa cita em 2007 que “nos países onde há boa classificação de sementes por peneiras, o sistema mecânico é tão eficiente quanto o a vácuo, com a vantagem que qualquer operador de máquinas consegue trocar e fazer a manutenção na fazenda. O sistema pneumático é importante quando não há classificação por peneiras. O principal mercado para as máquinas pneumáticas está no Norte, com a cultura de algodão cujas sementes não tem boa uniformidade. Outra cultura é o girassol, mas tem pouca expressão ainda. A fábrica está trabalhando com uma empresa para viabilizar a semeadura de mamona, canola e girassol, com envolvimento da EMATER, pois o interesse pelo biodiesel é crescente” (CASÃO JUNIOR et al, 2008).

Portella conta que a “Marchesan trouxe o primeiro distribuidor de fertilizante com rosca sem fim.

Foi uma briga nas avaliações realizadas pela EMBRAPA de 1993 a 1997, sendo que as outras empresas não queriam que o teste fosse realizado. Dois anos depois, todas introduziram este dispositivo em suas máquinas. Não havia problemas de cópias e nem preocupação excessiva com patente dos produtos. Havendo grande troca de experiências e copia entre os fabricantes. Argumenta que se não fosse isso, na época, não seria possível dar o grande salto de qualidade que houve” (CASÃO JUNIOR et al, 2008). Hoje os cuidados com a propriedade intelectual são maiores.

O dispositivo mais usado hoje é o de rosca sem fim, os quais estão em constante aperfeiçoamento para não somente melhorar a uniformidade de distribuição, como também, facilitar sua manutenção e durabilidade (CASÃO JUNIOR, 2006). Um exemplo dos mais recentes é o surgimento do dosador da Fertisystem usado por vários fabricantes (Figura 15b).

As indústrias que estavam mais presentes com semeadoras de plantio direto no início da década de 90 eram a Semeato, Imasa, Fankhauser, Vence Tudo, Jumil, Marchesan e Baldan, além de algumas que desapareceram. Mais para o final da década surgiram a John Deere, Sfil, Max, Metasa e Kulzer & Kliemann, no início dos anos 2000 a Planticenter, Gihal, Case, Morgenstern. No final da década de 2000 surgiram semeadoras na Stara, a Kuhn que adquiriu a Metasa, a Agco que adquiriu a Sfil, a KF, além das indústrias de equipamentos a tração animal que passaram a entrar no mercado de semeadoras mecanizadas, como a Fitarelli, Knapik, NS Mafrense e Werner. Recentemente a Semeato associou-se a New Holand.

As semeadoras foram aperfeiçoadas em vários componentes e sistemas.

O sistema de acoplamento hoje é prático e robusto, sendo que há 10 anos era necessário, em algumas máquinas, mudar a posição de vários parafusos. O sistema de transmissão melhorou, sendo que a troca de engrenagens, que era morosa, passou a ser rápida com caixa de câmbio, e a Baldan, que usa o sistema Speed Box, o qual é bem compacto, com grande amplitude na relação de transmissão e ajuste prático (CASÃO JUNIOR & SIQUEIRA, 2006).

Um ponto muito importante que alguns fabricantes estão dando atenção, é a facilidade de manutenção da máquina. Ainda predomina em algumas semeadoras, mancais com graxeiras, ao passo que em outras são utilizados mancais blindados e grafitados. É comum encontrar até treze pontos de lubrificação em uma linha da máquina, ao passo que existem máquinas com somente um ponto de lubrificação por linha. Há máquinas de 10 linhas com mais de duzentos pontos de lubrificação. Existem dispositivos de distribuição de fertilizante com até três graxeiras e outros que estão eliminando-as.

Os fabricantes de máquinas agrícolas estão desenvolvendo e introduzindo nas semeadoras, vários componentes com facilidade de regulagem. Os discos de corte, que no passado somente tinham como opção a variação da pressão das molas, hoje podem ser posicionados em diferentes alturas. O mesmo ocorre com as hastes sulcadoras e a regulagem prática da posição dos discos duplos para deposição de sementes e das rodas compactadoras (CASÃO JUNIOR, 2006).

A maior dificuldade de regular hoje uma semeadora de precisão é na mudança de espaçamento entre linhas.

É muito trabalhoso deslocar as unidades de semeadura na barra porta ferramenta da máquina. Se isto fosse possível, o produtor poderia alterar o espaçamento de soja de 45 cm para 40 cm em função de sua necessidade. Semear o milho a 80 cm e a soja a 45 cm. Poderia haver até a possibilidade de semear plantas de cobertura intercalar ao milho ou sorgo projetando as máquinas para esta finalidade. Eduir da Imasa cita que “a Plantec é uma multissemeadora que traz como novidade a possibilidade de deslocar as linhas na barra porta ferramenta sem a necessidade de desparafusa-las. Assim a transformação de sementes graúdas em miúdas é obtida com praticamente o movimento rotativo de um eixo. Além disso, pode posicionar o adubo ao lado das sementes, pode semear até três tipos de sementes ao mesmo tempo” (CASÃO JUNIOR et al, 2008).

Alguns produtores inovadores têm a intenção de semear sementes de pastagens no interior da soja, integrando a lavoura com a pecuária. Para projetar esta máquina há necessidade de que as unidades de semeadura possam ser posicionadas em diferentes locais da barra porta ferramenta com facilidade. Considera-se que o plantio de Brachiaria ruziziensis entre as linhas de milho safra ou safrinha já é prática disseminada entre produtores, para integração com pecuária ou para somente produzir mais palha como cobertura. A dificuldade é ter máquina apropriada para semear as sementes de pastagem com discos duplos intercalar as linhas de milho. Muitas multissemeadoras podem realizar este tipo de semeadura sendo que alguns fabricantes já desenvolveram máquina específica para isso (Figura 16a), no entanto reclamam que têm pouca saída. Outros produtores estão adaptando kit de distribuição de sementes de pastagem em “plantadeiras” (Figura 16b), mas reclamam que a germinação é muito prejudicada pelo fato das sementes caírem a lanço sobre o solo.

Hoje já existem fabricantes, como a Picetti, que, oferece kits para distribuição de sementes de pastagem que podem ser adaptadas em semeadoras e outros equipamentos existentes no mercado.

Um frequente problema das semeadoras de precisão é o chamado “embuchamento”. As máquinas evoluíram muito para a solução deste problema. Todo o componente que de certa forma vinha a obstruir a passagem da palha por entre as linhas da máquina aumentava os pontos de embuchamento. Hoje muitas máquinas possuem estrutura alta, elevando sua frente de ataque, rompedores em zigue zague e distância entre componentes que evitem o acúmulo de palha e solo. Com o aumento do peso das máquinas este problema voltou a se agravar, fazendo com que algumas semeadoras tenham que esperar mais tempo para a palha secar e mesmo exigir um manejo mecânico e/ou químico adicional da cobertura (CASÃO JUNIOR & SIQUEIRA, 2006).

Nas áreas terraceadas é comum as máquinas cruzarem, mesmo na diagonal ou semearem sobre os terraços de base larga. Assim, muitas semeadoras não possuem a articulação necessária para que todos os componentes estejam em contato com o solo. Normalmente as máquinas de maior comprimento longitudinal, ao cruzar terraços, fazem com que seus componentes flutuem sobre o terreno, sendo que as compactas apresentam menos problemas, sem considerar, também, que existe um tamanho máximo para acomodar uma semeadora sobre um caminhão de transporte, tão importante para levá-la de uma propriedade a outra. Na figura 17 são apresentados alguns dos modelos de vários diferentes fabricantes existentes na atualidade com características adequadas para o trabalho com grande quantidade de palha e cruzamento de terraços. A figura 17a, mostra um modelo com unidades de semeadura (linhas) pivotadas; a 17b, linhas pantográficas e a 17c com linhas pivotadas e atuação da pressão sobre as linhas por meio de cabo de aço.