Equipe Editorial Revista Plantio Direto
No final de fevereiro, a Revista Plantio Direto participou de um evento de comemoração dos 25 anos de implantação do Sistema Plantio Direto (SPD) na Granja Vania, propriedade conduzida pelo Eng. Agr. Vanderlei Neu, no município de XV de Novembro/RS. Há cinco anos, realizamos uma entrevista com o Vanderlei, onde ele e seu pai, Nercio Neu, contaram um pouco da história da propriedade e da família.
Nessa ocasião o foco foi o desafio de plantar na palha, os entraves iniciais e as vitórias que ocorreram ao longo dos 20 anos de SPD. Dessa vez na celebração dos 25 anos, participamos do descerramento do novo marco da propriedade. O evento contou com a fala de representantes da pesquisa e de empresas parceiras, a dinâmica mostrou aos participantes um dos princípios do sistema na propriedade: no mesmo dia em que é realizada a colheita do milho, ocorre o plantio da cobertura sobre a palhada, de forma que o solo esteja sempre coberto.
Infelizmente, foi um ano com estiagem histórica no Rio Grande do Sul, ocasionando muitas manchas de baixa e baixíssimas produtividades nas propriedades em geral. Porém, foi possível perceber como a condução do SPD pode favorecer e amenizar condições difíceis como o que ocorreu nesse ano.
Ao acompanhar as comemorações desse momento importante na história da Granja Vânia, realizamos uma entrevista técnica com Vanderlei Neu, para trazer alguns pontos importantes do manejo do Sistema adotado por ele na propriedade.
Revista Plantio Direto: Quando iniciou a agricultura na Granja Vânia?
Vanderlei Neu: Meu pai iniciou a agricultura na Granja Vania no final dos anos 60 e em 1994 adotamos o plantio direto na palha.
RPD: Como é utilizada a área no período da primavera/verão e quais culturas são plantadas?
Neu: Todo ano, no verão é realizado cultivo de soja em 2/3 (66%) da área e 1/3 de milho (33%).
RPD: Como é utilizada a área no período do outono/inverno e quais culturas são plantadas?
Neu: Considerando o sistema de rotação que utilizamos no outonoinverno em 1/3 da área são cultivadas espécies de cobertura para anteceder o milho. Todo ano 1/3 é cultivado o trigo, e no restante, dependendo da situação, é cultivada aveia-branca ou a área e trigo é ampliada.
RPD: Quais as principais culturas de cobertura usadas na propriedade?
Neu: As espécies mais utilizadas são a aveia-preta e nabo forrageiro
RPD: Quando foi a última movimentação do solo nas áreas de cultivo? Foi necessário realizar escarificação/subsolagem nos últimos anos?
Neu: Não realizamos escarificação ou subsolagem no solo nos últimos anos, sendo que a última movimentação do solo foi feita no verão de 1993, antes de iniciarmos o plantio direto.
RPD: Como é feito o manejo da cobertura para o plantio das culturas comerciais?
Neu: Nas áreas em que é usada aveia-preta, é feito manejo químico (dessecação) cerca de 30 dias antes do plantio da próxima cultura. Nas áreas em que é utilizado nabo, é feito dessecação dois dias antes do plantio, e as plantas são “deitadas” com a própria plantadeira (plantando na cobertura ainda verde).
RPD: Quando são semeadas as espécies de cobertura?
Neu: As plantas de cobertura são semeadas imediatamente após a colheita do milho ou da soja.
RPD: Qual é produtividade média das culturas, em anos normais, com boa quantidade de chuvas, e em anos de seca?
Neu: A produtividade do trigo varia muito em função do clima, mas em anos favoráveis é colhido em torno de 70 sc/ha. A soja nos últimos anos tivemos médias em torno de 80 sc/ha, e o milho na faixa de 200 sc/ha. Já em anos com pouca chuva, o milho cai para 100 sc/ha. A soja vai para faixa de 35 a 40 sc/ha. Na ultima safra, quando não tivemos chuva na propriedade, a produtividade ficou pouco acima de 20 sc/ha.
RPD: Como é feito adubação nas áreas de cultivo da Granja Vânia?
Neu: É feito adubação química principalmente, e pontualmente adubação orgânica. Em geral são aplicados em torno de 120 kg/ ha de fósforo e potássio por ano. As plantas de cobertura não são adubadas, pois o objetivo na propriedade fazer a reciclagem de nutrientes.
RPD: Você realiza inoculação nasoja?
Neu: Sim. São usadas de 4 a 5 doses de inoculante por hectare.
RPD: Quanto à correção do solo com calcário, quando foi a última aplicação? A calagemé realizada todo ano? Quantas toneladas são utilizadas?
Neu: Em geral é feita aplicação de calcário a cada dois anos, usando em torno de duas toneladas por hectare.
RPD: Você já usou gesso nas lavouras?
Neu: Nunca usei gesso, mas há 17 anos que é utilizado o sulfato de amônio, que é uma fonte de enxofre e tem apresentado resultado.
RPD: Na sua opinião, como o manejo dos últimos anos refletiu nesse ano, que ocorreu severa estiagem?
Neu: O que em geral nós percebemos é que com o Plantio Direto continuado, com a estruturação do solo, permite melhor armazenamento de água. Esse ano, o milho fechou com média de 120 sacos/ ha, porque na fase reprodutiva, em dezembro, choveu apenas 18 mm. Então a água que foi possível armazenar das chuvas de outubro e novembro, quando tivemos boas precipitações, o milho ainda conseguiu aproveitar e teve uma produtividade média. O problema maior foi a soja. Como na nossa propriedade em dezembro não choveu, em janeiro choveu pouco, e em fevereiro e março praticamente não choveu ( registramos menos de 30 mm no mês), não tem “milagre”. Não adianta ter a capacidade de armazenar água no solo, se não tem água.