João Manoel Borges; José de Alencar Lemos Vieira Jr.
Baseado no levantamento apresentado por Foloni (2019), algumas regiões produtoras de soja do Brasil têm maior ou menor intensidade de mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum), o que pode estar relacionada com a diversidade de sistemas de produção adotados. Iremos citar algumas informações e ações relacionadas a cada um desses sistemas visando a redução da ocorrência de mofo branco na cultura da soja.
No Quadro 1 encontra-se uma lista para consulta das ações que poderiam ser empregadas para manejar o mofo branco em soja. Cada ação está identificada com um código, como por exemplo: A1 = Adicionar cobertura de espécie gramínea no outono/inverno, sendo que cada sistema possui sua própria lista de códigos/ações.
É importante ter em mente que, independentemente do tipo de sistema de produção utilizado, o primeiro passo para manejar a doença é identificar e quantificar os talhões com maior problema (buscar registrar e analisar o histórico da intensidade da doença nos talhões, e quando possível, realizar a identificação e amostragem de escleródios visando conhecer a quantidade e viabilidade das estruturas presentes).
Naturalmente, a prevenção é a melhor maneira de evitar que a doença ocorra na área. Medidas como uso de sementes certificadas e limpeza de máquinas, equipamentos e roupas antes e depois de transitar em áreas com histórico da doença são essenciais em qualquer tipo de sistema de produção, buscando evitar a introdução de escleródios de Sclerotinia sclerotiorum que são as estruturas de sobrevivência do patógeno. As Tabelas 2, 3 e 4 apresentam informações de desempenho de fungicidas químicos e biológicos conforme ensaios cooperativos coordenados pela Embrapa.
Sistema Soja →Trigo ou Cevada:
A ausência de gramíneas no esquema de rotação/sucessão de culturas contribui para o aumento de mofo branco em soja em áreas com histórico de ocorrência da doença. Em áreas que incluem o trigo ou cevada no sistema de produção, esse problema tende a ser reduzido.
Porém, dependendo da forma como o sistema é conduzido, pode haver ou não um vazio outonal após a colheita da soja e antes da semeadura do trigo/cevada. Esse vazio outonal é prejudicial no manejo do mofo branco pois não adiciona matéria seca (palhada) ao solo, e permite o aparecimento de plantas daninhas que podem ser hospedeiras para o patógeno. Cabe destacar que mais de 400 espécies vegetais podem ser hospedeiras, e muitas delas são plantas daninhas de folha larga como leiteiro, trapoeraba, serralha, etc.
A presença de palhada é importante no sistema de produção, porque além de servir como uma barreira física para a dispersão dos esporos do fungo S. sclerotiorum, é essencial para garantir melhor eficácia do controle biológico com organismos antagonistas. Assim, é necessário atentar para o fato de que a tendência é que as cultivares modernas de trigo e cevada deixem pouca resteva após a colheita dos grãos, no período que antecede a semeadura da soja.
Veja as ações para manejo da doença nesse sistema no Quadro 1, itens código A1, A2, A3, A4, A5, A6, A7 e A8.
Sistema Soja → Milho safrinha
Da mesma forma como sistemas com três safras, alternativas para a sucessão soja/milho safrinha com ocorrência de mofo branco incluem a alteração temporária do sistema, retirando a soja do verão, substituindo por milho, e após o cultivo do milho utilizar cultivos de cobertura de espécies gramíneas durante o outono/inverno. Além disso, recomenda-se a utilização de fungicidas biológicos e químicos. Consorciar o milho safrinha com braquiária também pode ser uma forma de reduzir o problema com a doença, em função da maior quantidade de massa, e provável efeito maior dos fungicidas biológicos.
Veja as ações para manejo da doença nesse sistema no Quadro 1, itens código A1, A2, A3, A4, A5, A6 e A11.
Sistema Soja → veia-preta:
Nos sistemas que cultivam soja no verão, e na sequência aveia-preta, pode ter ou não algum cultivo intermediário (cultivo de outono) após a colheita da soja, dependendo se a soja for colhida cedo ou não. Nos casos em que há um intervalo grande de tempo entre a colheita da soja e a semeadura da aveia-preta, seria interessante incluir alguma gramínea, como por exemplo milheto ou capim-sudão, que possa rapidamente cobrir o solo, evitando desenvolvimento de plantas hospedeiras para o patógeno (inclusive soja guaxa/voluntária), e adicionando matéria verde e matéria seca.
A aveia-preta sendo utilizada para cobertura pode ser rolada e/ ou dessecada antes do cultivo da soja no verão seguinte. Esse período pode ser utilizado para aplicação de fungicidas biológicos caso a intensidade da doença tenha sido muito alta na safra anterior.
Veja as ações para manejo da doença nesse sistema no Quadro 1, itens código A1, A2, A3, A4, A5, A6, A7 e A8.
Sistema Soja → Pastagem:
Em sistemas que possuem animais (bovinos) como elemento, além de lavouras, é importante ter em mente que, apesar de plantas forrageiras de espécies leguminosas (como trevo-branco e cornichão) possuírem características nutricionais excelentes, elas são plantas hospedeiras para o patógeno. Dessa forma, se o histórico de incidência e severidade de mofo branco na lavoura de soja for muito expressivo, deve-se evitar naquele talhão o uso de forrageiras leguminosas.
Produzir silagem de milho no verão em áreas com maior ocorrência do mofo branco, ao invés de soja, pode ser uma alternativa para reduzir a quantidade de tempo em que hospedeiros do patógeno permanecem no campo. No entanto, deve ser levado em consideração que cultivar milho para silagem após uma primeira safra de soja não pode ser considerado como rotação. Nesse caso, os restos culturais infectados e colonizados da soja e escleródios produzidos durante o ciclo da cultura continuarão viáveis para o ano seguinte.
Outras ações importantes incluem evitar deixar o solo descoberto, pois como citado anteriormente, isso facilita o aparecimento de daninhas hospedeiras. Também é possível utilizar o período de pastejo durante o outono/ inverno para a aplicação de fungicidas biológicos.
Veja as ações para manejo da doença nesse sistema no Quadro1, itens código A1, A2, A3,A4, A5, A6 e A9.
Sistema Soja → Pousio:
O sistema de produção que cultiva soja no verão, e mantém a área em pousio no resto do ano, é especialmente problemático quanto a ocorrência de mofo branco, bem como de várias doenças. A ausência de rotação de culturas na área facilita a ocorrência do mofo branco todo ano, multiplicando o inóculo da doença. Além disso, o solo descoberto ao longo do ano permite o desenvolvimento de plantas daninhas que sejam hospedeiras do patógeno. A falta de palha também facilita a dispersão dos esporos do fungo que podem atingir as flores de soja com maior facilidade e se houver condições adequadas de temperatura e umidade iram germinar e causar a infecção na planta. Entre as plantas daninhas que podem surgir em pousio, muito comumente a soja guaxa/voluntária ocorre, pois após a colheita não há manejo, e com isso teremos hospedeiros da doença no campo durante boa parte do ano.
Veja as ações para manejo da doença nesse sistema no Quadro 1, itens código A1, A2, A3, A4, A5, A6, A7, A8, A9 e A10.
Sistema Soja → Milho safrinha + Braquiária
Da mesma forma como nos sistemas citados anteriormente, alternativas para a sucessão soja/ milho safrinha com ocorrência de mofo branco incluem a alteração temporária do sistema, retirando a soja do verão, substituindo por milho, e após o cultivo do milho utilizar cultivos de cobertura de espécies gramíneas durante o outono/ inverno, além do uso de fungicidas biológicos e químicos.
Veja as ações para manejo da doença nesse sistema no Quadro 1, itens código A1, A2, A3, A4, A5, A6, A7, A8 e A10.
Sistema de 3 safras (soja/milho safrinha/trigo):
O fato de nesse sistema não haver período significativo de entressafra torna o manejo de vários problemas mais complexo. Naturalmente a rotação de culturas mantendo a maior parte do ano com gramíneas reduz a ocorrência do mofo branco, mas áreas com maior infestação e/ou com condições climáticas favoráveis podem vir a apresentar danos na produtividade em função dessa doença. Estratégias para reduzir esse problema incluem a utilização de fungicidas, tanto químicos quanto biológicos, sendo os químicos utilizados durante o ciclo da soja.
No caso de determinados talhões possuírem alta incidência da doença, pode ser necessário que essas áreas “saiam” do sistema de três safras temporariamente. Nesse caso, ao invés de cultivar sempre soja no verão, alternar com o cultivo de milho. Inserir plantas de cobertura gramíneas em algum momento, ao invés de uma cultura comercial como milho safrinha ou Tabela 3. Germinação carpogênica, percentual de controle (C%), colonização de escleródios por Trichoderma spp. e escleródios inviáveis nos ensaios cooperativos de controle biológico de mofo-branco - safra 2015/2016. (adaptado de Meyer et al., 2016) trigo, pode facilitar o manejo em determinados talhões.
A inclusão do milho safrinha consorciado com braquiária pode ser uma alternativa para aumentar a quantidade de palha, matéria orgânica e atividade biológica que permite redução do inóculo de mofo branco, além de que existem trabalhos demonstrando que a braquiária é uma espécie que facilita a ação de fungicidas biológicos como Trichoderma spp.
Veja as ações para manejo da doença nesse sistema no Quadro 1, itens código A1, A2, A3, A4, A5, A7, A8, A11, A12 e A13
Sistema com rotação soja/milho (verão):
A rotação de soja com milho é uma das principais táticas para manejar o mofo branco, e se existem áreas que realizam essa rotação e ainda assim possuem incidência da doença, é provável que as condições climáticas da área facilitam o desenvolvimento do fungo (altitude, temperatura e umidade). Nesse sentido, se a intensidade da doença nessas áreas é muito elevada, o manejo tornase mais difícil. A utilização de fungicidas, tanto químicos quanto biológicos, torna-se praticamente essencial para conseguir um controle e redução de inóculo significativos. Dependendo do histórico de ocorrência da doença, pode ser necessário uma rotação de culturas mais complexa e menos rentável (dependendo do caso), deixando determinados talhões sem soja no verão durante dois anos consecutivos.
Veja as ações para manejo da doença nesse sistema no Quadro 1, itens código A1, A2, A3, A4, A5, A7, A8, A9 e A10.