Manejo de plantas daninhas na cultura do milho


Autores: Leandro Paiola Albrecht; Alfredo Junior Paiola Albrecht
Publicado em: 28/02/2020

Manejo de Plantas Daninhas e Sistema Produtivo

O manejo de plantas daninhas nos últimos anos vem se tornando cada vez mais complexo e exigindo mais do produtor rural. Há a necessidade de pensar em sistema produtivo e agir de forma pro ativa, caso contrário, as plantas daninhas a médio prazo se consolidarão como o principal problema fitossanitário no sistema soja-milho segunda safra. Assumindo portanto, o protagonismo que possuía até o começo do século, antes das culturas RR® (tolerantes a glyphosate).

Atualmente o que mais chama atenção no manejo de plantas daninhas é o controle de espécies com as denominadas resistências, ou seja, aquelas que possuem resistência a herbicidas, como é o caso da buva (Conyza spp.) e do capim-amargoso (Digitaria insularis). Esse cenário preocupante e pessimista, só piora a cada ano, e faz com que realmente se possa concordar com a previsão de que as plantas daninhas serão o principal desafio na proteção dos cultivos. Portanto, essas ditas “espécies resistentes” vem “tirando o sono” do agricultor, como é o caso das resistências múltiplas (mais de um mecanismo de ação) da buva identificadas pelo Supra Pesquisa e parceiros no Oeste do Estado do Paraná, e outras regiões, o que vem sendo monitorado em parceria com cooperativas e o HRAC-BR.

Essas espécies daninhas, resistentes, tolerantes ou não, podem levar a perdas significativas, “batendo a carteira do produtor rural”, como acontece no caso da buva, em que estudos do Supra Pesquisa indicam perdas de aproximadamente 14% para apenas uma planta de buva por metro quadrado na média da lavoura, isso para o caso da soja. Mas não deve-se iludir, acreditando que esse problema de resistência e de matointerferência seja exclusivo na soja, ele abrange todo o sistema, atingindo em cheio a cultura do milho, cultura essa que em boa parte do Brasil, sucede a soja em segunda safra. E em muitos do casos, o problema começa antes da soja, “atravessa” o ciclo da soja e entra para dentro do milho, criando um efeito de “bola de neve”, em que para espécies como o capimamargoso é extremamente problemático.

Porque espécies como o capim-amargoso, que vem mal controlado da soja são extremamente problemáticos dentro do milho? Por uma questão bem simples, ambos são “folhas estreitas”, ou seja, há uma limitação de herbicidas a se utilizar no controle de capim-amargoso e outras gramíneas no meio do milho. Assim, o manejo prudente de algumas espécies no milho, deve começar na soja, portanto, um manejo de sistema. Isso é pensar também em manejo integrado de plantas daninhas (MIPD). Manejo esse integrado que “caiu um pouco de moda” com o surgimento da geração de espécies cultivadas RR®, não que elas sejam ruins, mas por serem tão boas e “facilitarem a vida”, se “baixou a guarda”, esquecendo algumas boas práticas, e na maioria dos casos usando sempre os mesmos herbicidas. Quando usamos sempre os mesmos herbicidas, matamos os “fracos” e deixamos os “fortes”, que são resistente e já estão na natureza, isso é pressão de seleção (ou seleção dirigida), isso é em termos práticos, criar população de plantas daninhas resistentes. Isso não pode ser permitido mais. É necessário mudar. É necessário deixar de fazer as mesmas coisas, querendo resultados diferentes. Temos que fazer MIPD!

É nesse sentido, e diante desses desafios atuais, que é necessário pensar em manejo de plantas daninhas na cultura do milho, e não apenas controle química, pensar na lógica de manejo integrado de plantas daninhas, em que o lema é “fazer a coisa certa, do jeito certo e na hora certa”. Não dá para encarar de forma amadora as plantas daninhas no sistema, e isso inclui o milho segunda safra, que já não é “safrinha” a um bom tempo, pois já ultrapassou o milho primeira safra e, em muitos anos agrícolas, literalmente “salva a lavoura”, quando sinistros acontecem na primeira safra, na maioria dos casos a soja. Portanto, dependendo da situação, não dá nem para chamar mais o milho de segunda cultura e a soja de cultura principal, ambas são importante e se complementam no sistema e na renda do produtor. Com base nesse contexto, a proteção de plantas como um todo, e aqui em pauta o manejo de plantas daninhas no milho, tem que ser encarado como investimento no sistema, e não apenas um custo, ou como alguns pensam, um gasto. Definitivamente não é um gasto, o manejo de plantas daninhas é um investimento. Se necessário for, devemos fazer rotações, consórcios, mudar arranjo espacial, trocar híbrido e usar novas formulações e associações de herbicidas.

Manejo Integrado de Plantas Daninhas na Cultura do Milho

A partir da compreensão de que não dá para “brincar” com o sistema produtivo, de que não se pode ser amador, que o manejo do milho (assim como do sistema como um todo) deve ser encarado como investimento, e que para isso todas as “armas” devem ser usadas, é necessário sintetizar algumas possibilidades interessantes dentro da cultura do milho. É possível listar as seguintes oportunidades relevantes de controle no manejo de plantas daninhas no milho: controle cultural, seleção de genótipos e controle químico (ou mesmo os três associados!).

O controle cultural, talvez seja o mais importante, pois envolve mais o sistema que os demais controles. É o tipo de controle que permiti propiciar a cultura condições competitivas diante do mato (planta daninha). O que seria garantir condições competitivas para a cultura diante do mato? Basicamente é permitir que a cultura se desenvolva bem, feche bem, e de preferência feche no limpo, pois o “melhor controle para a planta daninha é a própria cultura”. Se a cultura fechar no limpo, é ganho para o produtor, é salvar a lavoura de prejuízos como as plantas daninhas.

E como se pode permitir que a cultura feche no limpo? Uma das estratégias, já associando os controles possíveis, é realizar uma boa dessecação pré-semeadura, utilizando um bom pré-emergente (controle químico associado).

Fazendo isso, é dado uma “dianteira competitiva” para a cultura, ou seja, ela entrando no limpo, aumenta-se o período anterior a interferência do mato (PAI), o que diminui o período crítico de prevenção a interferência (PCPI), o que diminui o uso de herbicidas em pós-emergência da cultura, e isso é vantagem para o produtos, é economizar em custo e facilitar o manejo.

Além de permitir que a cultura feche no limpo, pode-se criar situações para que ela feche mais rápido, diminuindo o período total de prevenção a interferência do mato (PTPI), diminuindo esse período total, diminui-se novamente aquele período crítico (PCPI) de entrada de herbicida em pós. Então com o aumento o período anterior a interferência do mato (PAI) e diminuindo o período total (PTPI), diminuiu-se o período crítico (PCPI) e pode-se diminuir herbicida em pós e ganhar em rendimento do milho? Isso mesmo!

Mas como possibilitar que a cultura feche mais rápido e tenha menos problemas com o mato? Isso é possível associando outro tipo de “controle” que é a seleção de híbridos, nesse caso quanto mais responsivo e vigoroso o híbrido, associado ao um ambiente mais adequado, mais esse milho cresce, se desenvolve e fecha mais cedo. Isso é ótimo. Mas o que é um “ambiente mais adequado”? Um ambiente que proporciona boas condições para o crescimento do milho, um ambiente produtivo com perfil de solo corrigido, com adubação nitrogenada para alto potencial, com híbrido semeado em época favorável, adequação de soma térmica, etc. Tudo isso em resumo, pode ser um ambiente produtivo mais adequado ou propício para o milho fechar o mais cedo possível a entrelinha, “dificultando a vida” para as plantas daninhas.

Isso que está sendo dito não é só controle cultural, mas é manejo de sistema também. Há mais oportunidades dentro dessa lógica? Com certeza! Elas são “infinitas”! Nesse sentido cabe destacar a produção de palhada no sistema, que serve como controle cultural e também físico. Pois a cobertura de solo, além de inúmeros benefícios ao sistema como um todo, cria um “invólucro” protetor no solo, impedindo por meio de barreira física que algumas espécies de plantas daninhas venham a emergir. Além de algumas palhadas (ou plantas de cobertura) liberarem aleloquímicos, que geram alelopatia, que em outros termos nesse caso de MIPD, são “bioherbicidas” que ajudam o produtor.

E nesse sentido de gerar palha no sistema, não se pode esquecer de mencionar os consórcios, especialmente um consórcio bem praticado na cultura do milho, que é o consórcio milho-braquiária. O consórcio milho com braquiária, em suas diferentes possibilidades, além de seus notórios benefícios ao sistema produtivo, na cultura do milho pode auxiliar na supressão direta de plantas daninhas dentro da cultura. Além do milho com braquiária, outras possibilidades existem, como o consórcio de milho com crotalária. Observando que todos esses consórcios são bem técnicos e exigem atenção do agricultor, inclusive na hora de usar herbicidas no milho, para não matar a planta consorciada.

Dá para perceber até agora que as possibilidades diante dos desafios existem, e não são poucos, mas exigem planejamento e pensamento a médio e longo prazo também. São mais complexos também, mas não impossíveis. No entanto, esse é o caminho, as soluções existem, mas exigem empenho, pois os problemas são difíceis. Mais as oportunidades de controle não pararam ainda, destaca-se agora a dita seleção de genótipos, que nada mais é do que a escolha de híbridos, que já observou-se acima, no sentido de encaixar o híbrido ao sistema, procurando responsividade para fechar a cultura mais cedo. Mas cabe salientar ainda, que dependendo do híbrido que se escolhe, escolhemos, eventualmente embutido neles, algumas tecnologias transgênicas, como a tolerância a alguns herbicidas, como ao glyphosate (RR®), ao glufosinate (LL®), a graminicidas (no Enlist®, assim como outras ferramentas piramidadas), etc. Essas tecnologias, algumas já disponíveis e outras que ainda virão, são ferramentas auxiliares no manejo, pois assim como deve-se rotacionar culturas no sistema, deve-se rotacionar ou usar transgênicos, pois rotacionando tolerâncias a herbicidas, rotacionamos herbicidas, e isso é tema do próximo tópico, que é o controle químico.

Uso de Herbicidas Como Solução na Cultura do Milho

O uso de herbicida sempre deveria ser auxiliar e não “apaga fogo” ou “primeira medida”, pois “temos que aplicar conhecimento antes de aplicar o herbicida”. Considerando que outros controles no manejo falhem ou não são efetivados, considerando que o mato pode trazer prejuízos enormes e considerando os dramas da resistência de plantas daninhas, “a vida não está fácil” para o produtor, e investir na seleção de bons herbicidas associados as transgenias é crucial.

Na seleção de herbicidas devemos levar em consideração a:

  • Composição florística e fitossociologia das plantas daninhas: “nomes bonitos” para enquadrar algo “feio”, ou seja, esses termos se referem ao “tipo” de mato que existe na área de manejo e o quanto cada espécie pode representar em termos de problemática.
  • Espectro de controle: se o herbicida “pega” ou controla o mato problemático na área, se o controle é efetivo ou tem eficácia agronômica.
  • Modalidade de uso: há “frentes de ataque” dos herbicidas, pois os mesmos podem ser préemergentes ou pós-emergentes da planta daninhas, e podem ter o seu uso na dessecação pré-semeadura ou dentro da cultura.
  • Seletividade do herbicida: se o herbicida causa potencialmente fitointoxicação (a “fito”) e/ ou “carryover” (residual indesejado) no milho, observando a tolerância dos materiais transgênicos X herbicidas.
  • Tecnologia de aplicação: esse é um quesito que a maioria anda “perdendo a mão”, e envolve práticas como calibração do pulverizador, volume de calda adequado, condições meteorológicas no momento da aplicação, estado da água (pH, dureza, etc), entre outros quesitos.
  • Sistema produtivo: lembra que antes do milho teve alguma cultura e que depois haverá, cuidando assim de herbicidas que causam residual indesejado ou “fito” na cultura do milho ou subsequente, o que já denominou-se aqui antes de “carryover”. E nesse sentido lembrar do solo e da palhada, pois dependendo do solo e da palhada o herbicida (destaque para o pré-emergente) vai ter um comportamento diferente.
  • Custo: é necessário avaliar a relação custo/benefício no uso de herbicidas, mas esse não pode ser o primeiro critério, pois podemos comprar “gato por lebre”, utilizando produtos “barato” que não resolvem o problema (onde o “barato sai caro”), e as vezes “fazendo mais do mesmo” sem avanço. É portanto necessário lembrar que herbicida é investimento.
  • Boas práticas agrícolas: é imprescindível usar EPI (equipamento de proteção individual), seguir rigorosamente a bula dos produtos e, ter sempre um Engenheiro Agrônomo prescrevendo as tecnologias e acompanhando a lavoura.
  • Para de forma sintética fechar o assunto de herbicidas, vale destacar alguns pontos ainda. Segue:

    • A “planta tem que estar funcionando bem para que o herbicida funcione bem”. Ou seja, se a condição ambiental (como em termos meteorológicos), seja no momento da aplicação ou anterior a ela não estiverem boas para que as plantas daninhas esteja fisiologicamente “bem”, o herbicida, que tem ação fisiológica no mato, não vai funcionar bem.
    • Outro ponto é, se for usar transgênicos as possibilidades de uso de herbicida melhoram, como a possibilidade de usar glyphosate e glufosinate em pós no milho, mas é necessário certificar-se com cautela se o material é RR® (tolerante a glyphosate) ou LL® (tolerante a glufosinate). As vezes a tolerância será aos dois, isso só para mencionar esses transgênicos apenas, mas as vezes pode haver confusão, e aí leva-se um “baita tapa na cara”, matando o milho ao invés de resolver o problema do mato. Quando uma infinidade de transgênicos tiver disponível, um desafio será o controle de milho tiguera, mas esse é um assunto para outro artigo.
    • Observa-se também que mesmo em materiais não transgênicos, alguns híbridos não são tão tolerantes a determinados herbicidas, como é a sensibilidade de alguns híbridos ao nicosulfuron (já descrita a algum tempo). Esse ponto é uma questão de seletividade de herbicidas e precisa ser melhor estudada, para trazer segurança ao produtor e recomendante.
    • Um cenário é destaque, as dessecações em pré-semeadura devem ser bem feitas, pois são essências para o estabelecimento da cultura. No entanto, quando for dessecar com graminicidas (os herbicidas do mecanismo ACCase, como clethodim e haloxyfop), cuidado com o carryover, pois não respeitando determinados intervalos antes da semeadura, problemas poderão ocorrer.
    • Atenção a estádio e dose de aplicação em pós-emergência do milho. Como por exemplo: evitar o uso de herbicidas hormonais (como o 2,4-D) após V4; evitar o uso de qualquer herbicida após V6; não ultrapassar a dose de bula, mesmo no caso de herbicidas para transgênicos. Porque, errando estádio e ultrapassando a dose de bula, podem ocorrer “desastres”, já que o herbicida fora de estádio e dose pode deixar se ser seletivo para a cultura.
    • Em consórcio, estar atento com a utilização de herbicidas. Procurar herbicidas seletivos para as espécies consorciadas na hora de controlar o mato. E cuidado nas sub-doses de herbicidas para controle de crescimento da braquiária, por exemplo.
    • Utilizar sempre pré-emergentes, pois são essenciais, trabalhando para segurar banco de sementes, aumentar o período anterior a interferência (PAI) e fazendo a rotação de mecanismo de ação, diminuindo assim a pressão de seleção e o surgimento de populações de plantas daninhas resistentes a herbicidas. Além disso, herbicidas como a atrazina, em dose cheia no milho, podem ser benéficas ao sistema. A atrazina em especial, ajuda a segurar fluxos de emergência de buva, facilitando o controle após o milho dessa espécie, e assim beneficiando o sistema.
    • E não esquecer de procurar sempre um Engenheiro Agrônomo.

    É nesse complexo conjunto de fatores, desafios e possibilidade que o campo oferece ao produtor, e a pesquisa, que o Supra, um Grupo de Pesquisa ligado a Universidade Federal do Paraná (UFPR), Setor Palotina, vem atuando desde 2011, junto aos agricultores, cooperativas, grandes e pequenas empresas do seguimento do agronegócio. O Supra Pesquisa se esforça no sentido de gerar soluções, e através de seus acadêmicos e professores envolvidos espera em outras oportunidade compartilhar mais informações que sejam demandadas pelos produtores. Pois a maior missão do Supra Pesquisa é fazer a informação chegar onde precisa, e nesse sentido, convida-se a todos que leram esse artigo a gerarem novas demandas, e a consultarem nossos artigos e mídias sociais, como as disponíveis nos links: https://pt-br.facebook.com/supra.pesquisa

    Considerações Finais

    Portanto, não se pode deixar de pensar em sistema, devemos usar todas as estratégias de controle de forma integrada e pró ativa. É necessário estar atento ao manejo de população de plantas daninhas resistentes a herbicidas. Atenção a rotação de culturas, consórcios e cultivos transgênicos. Infelizmente não existem “soluções mágicas”, mas existem novas tecnologias e novos produtos.