Manejo da adubação nitrogenada e diagnóstico da composição nutricional do arroz no sul do Brasil


Autores: Vladison Fogliato Pereira, Alencar Júnior Zanon, Alex Alan Bredow, Alicia Baumhardt Dorneles, Anderson Haas Poerch, Ary Duarte Júnior, Betania Vahl de Paula, Débora da Cunha Mostardeiros, Giovane Rodrigo Friedrich Neu, Guilherme Guerin Munareto, Ioran Guedes Rosato, Isadora Hübner Brondani, Lorenzo Dalcin Meus, Lucas Adilio Sari, Mara Grohs, Moises de Freitas do Nascimento, Nereu Augusto Streck, Pablo Mazzuco de Souza, Rodrigo de Moura Silveira, Ricardo Fagan Vidal
Publicado em: 28/02/2020

1. Nitrogênio e composição nutricional em arroz

Durante as últimas décadas ocorreu um grande aumento no uso de fertilizantes minerais, proporcionando um incremento na produtividade das principais culturas ao redor do mundo (CASSMAN et. al., 2003). Para a cultura do arroz, com o desenvolvimento de cultivares semi anãs, ocorrido na década de 1960, as adubações puderam ser intensificadas, pois essas plantas apresentavam maior resistência ao acamamento e maior resposta em produtividade de grãos.

A nutrição adequada das plantas é um fator fundamental para atingir altas produtividades, além disso, plantas com adubação equilibrada são menos suscetíveis a ataques de pragas e doenças (PANHWAR et al., 2019). Por isso, é importante investigar o comportamento das cultivares atuais de arroz irrigado cultivadas no sul do Brasil e sua relação com o manejo da adubação nitrogenada, além de estabelecer parâmetros de concentrações ideais de nutrientes nas plantas.

O nitrogênio, mais conhecido na forma de uréia, por exemplo, é um nutriente essencial para as plantas, principalmente para a família das poaceaes, da qual o arroz faz parte, participando de uma série de processos e constituintes celulares no metabolismo, sendo o nutriente que, quando aplicado, apresenta maior resposta na produtividade de grãos do arroz.

A alta mobilidade e volatilidade do nitrogênio em condições de lavouras de arroz irrigado torna o nitrogênio um fator limitante ao crescimento e desenvolvimento das plantas de arroz, tornando fundamental o estudo da dinâmica do nitrogênio na lavoura de arroz irrigado (MUNDSTOCK; BREDEMEIER, 2000). Para a maximização da eficiência em adubações nitrogenadas é necessário que se busque o melhor posicionamento dos fertilizantes, de modo que seja ofertado no momento que as plantas tenham a maior demanda.

Desta forma, coincidir as aplicações de nitrogênio durante os estádios em que são definidos os componentes da produtividade (número de panículas, número de grãos por panícula e peso de grãos) é crucial para que os produtores garantam altos rendimentos. Buscando identificar a dinâmica do uso do nitrogênio nas diferentes épocas de semeadura no Rio Grande do Sul, este trabalho buscou avaliar a resposta da cultivar IRGA 424 RI a doses crescentes de nitrogênio (N) em diferentes épocas de semeadura e determinar concentrações de nutrientes adequadas para as principais cultivares produzidas no estado.

Sendo assim a equipe FieldCrops, em conjunto com o Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA), conduziu um experimento na Estação Regional de Pesquisa do IRGA, localizada em Cachoeira do Sul e em uma área comercial no município de Agudo. As doses de nitrogênio (N) utilizadas foram de: 0, 90, 150 e 210 kg ha-1 de N (200, 334 e 467 kg ha-1 de uréia, respectivamente) os quais foram aplicados 2/3 no momento de entrada de água, quando as plantas estavam com 3 folhas, e 1/3 no início da diferenciação da panícula (ponto de algodão).

Para avaliação da composição nutricional da cultura do arroz, foi realizado um trabalho em conjunto com a equipe GEPACES. Desta forma, foram coletadas 74 amostras de folhas bandeiras e produtividade de grãos em lavouras comerciais de todo o Rio Grande do Sul na safra de 2017/2018.

Essas amostras foram coletadas nas principais cultivares produzidas no estado: IRGA 424 RI, Puitá INTA CL, Guri INTA CL, EPAGRI 121, IRGA 429, IRGA 426 e IRGA 417.

Para a determinação do nível crítico e faixa de suficiência foi utilizado o método CND (diagnose da composição nutricional) que é um método multivariado de interpretação da análise de tecido vegetal, ou seja, leva em consideração a interação de todos os nutrientes presentes na matéria seca, sendo considerado a melhor alternativa de expressão do equilíbrio no tecido vegetal (PARENT et al., 1992).

2. Resposta do nitrogênio a épocas de semeadura e diferentes doses, em Agudo e Cachoeira do Sul - RS

A partir dos cálculos de máxima eficiência técnica e máxima eficiência econômica, a dose de nitrogênio que maximiza o lucro (MEE) encontrada foi de 117 kg ha-1 de N, para produzir 9.914 kg ha-1 de grãos. Além da aplicação de nitrogênio, fatores de manejo como época de semeadura são fundamentais para atingir altas produtividades. Semeaduras realizadas dentro do mês de outubro são chave para a obtenção de altos rendimentos.

Segundo Menezes et al. (2012), a época recomendada para variedades de ciclo médio como é a cultivar IRGA 424 RI, é de setembro até outubro, pois o período reprodutivo e de enchimento de grãos dessa lavoura (maior demanda de luz) coincidirá com o período de maior oferta de radiação solar, que no RS encontra-se nos meses de dezembro e janeiro. Os ganhos de produtividade nos meses de outubro e novembro dos tratamentos fertilizados com 210 kg de N ha-1 com relação as não fertilizadas foram de 1.650 kg de grãos ha-1 e 1.550 kg de grãos ha-1 respectivamente, enquanto que no mês de dezembro o ganho foi de 1.788 kg de grãos ha-1 para a dose de máxima eficiência técnica (DMET). Apesar das recomendações técnicas para o cultivo do arroz indicarem que semeaduras realizadas no mês de outubro são prioritárias para a obtenção de altos rendimento, neste estudo, realiza

do na safra agrícola de 2018/2019, a semeadura do mês de outubro foi a que atingiu as menores produtividades. Isto deveu-se principalmente ao mês de outubro ter sido caracterizado pela pouca umidade no solo no momento da semeadura, o que dificultou o estabelecimento inicial da lavoura, resultando em um estande de plantas de cerca de 70% do esperado.

Além disso, no mês de dezembro e janeiro a precipitação atingiu mais de 398 mm, volume 24% superior à média climatológica (INMET, 2019), resultando em dias nublados, de modo que quando a cultura estava em sua fase crítica de enchimento de grão, houve menor disponibilidade de radiação solar, diminuindo a produção de fotoassimilados e o aproveitamento do nitrogênio pela planta. Após observar a figura 2 podemos visualizar a eficiência do uso do nitrogênio (EUN) conforme diferentes épocas de semeadura e doses de nitrogênio, no qual os resultados variaram de 7 a 27 kg kg-1 com maior eficiência no mês de setembro, com a dose de 90 kg/ ha de N e pouco eficiente em semeaduras tardias no meses de outubro e novembro, com a doses de 210 kg/ha de N.

Desta forma a EUN decresceu com o aumento da dose aplicada, onde o suprimento de N excedeu à capacidade de assimilação das plantas, tendo um declínio linear da EUN . Segundo Jing et al.

, (2007), os melhores resultados permaneceram em torno de 20 a 30 kg kg-1 de EUN em arroz, desta forma o presente trabalho está de acordo com a literatura. Portanto os resultados podem ser explicados, de que quando ocorre uma adequada oferta de N, resulta em uma melhor assimilação no nutriente pelas plantas e menores perdas durante a aplicação, tanto por evaporação, lixiviação e principalmente pelo consumo de luxo.

Então o produtor deve procurar disponibilizar o N conforme as necessidades das plantas em relação à época de semeadura e também a concentração deste nutriente no solo, isto é possível, por exemplo, através de práticas de manejo, como o parcelamento das doses de nitrogênio, conforme os estádios que definem os componentes de produtividade (início do perfilhamento V4 e diferenciação da panícula R0), pois assim terá uma maior eficácia em suas adubações e também sustentabilidade ao sistema produtivo

3. Composição nutricional na cultura do arroz

Na cultura do arroz se torna necessário pensar no comportamento nutricional das plantas, desta forma buscando um equilíbrio entre planta, solo e produtividade. Com isso é importante salientar alguns conceitos em relação aos teores nutricionais, dentre eles, o nível crítico (NC) e faixa de suficiência (FS). O NC é uma zona que indica a partir do teor encontrado do nutriente, a planta terá resposta em produtividade ou aumento no crescimento e desenvolvimento vegetal. Já a FS, diferentemente do NC, utiliza os intervalos de teores foliares de nutrientes para indicar seu nível de adequação.

Através dos resultados valores de referência foram ajustados a partir do método multivariado CND (diagnose da composição nutricional), para melhor identificar padrões nutricionais para a cultura do arroz no estado do Rio Grande do Sul (tabela 1). Comparando a faixa de suficiência gerada pelo CND e pelo SOSBAI (2018) é possível verificar que o CND gera faixa mais estreitas, o que é mais vantajoso para o produtor, pois considerando que quando menor a amplitude da faixa, maior a precisão da recomendação.

Portanto para o produtor ou técnico, que utilizar estes padrões para tomada de decisão em relação às adubações, se pode reduzir a probabilidade de gastos excessivos e contaminação ambiental, sendo mais eficiente no uso de recursos.

4. Conclusão

A melhor eficiência do uso do nitrogênio ocorreu no tratamento com dose de 90 kg/ha, no entanto, para semeaduras realizadas em dezembro a máxima eficiência econômica e máxima eficiência técnica, foram de 117 kg ha-1 a 130 kg ha-1, respectivamente. Foi possível ajustar as concentrações de nutrientes na cultura do arroz, através do método CND.