Fungo ninho-de-pássaro em lavouras de soja


Autores:

Erlei Melo Reis; Mateus Zanatta; Andrea Camargo Reis

Publicado em: 31/12/2019

Introdução

Devido a generalização do plantio direto, e o resultante acúmulo de matéria orgânica sobre o solo, há alteração na bióta nesse novo ambiente. Em consequência surgem novas especies de organismos vivos envolvidos com o processo de decomposiçao da matéria orgânica. Um exemplo é a presença frequente do fungo vulgarmente chamado de ninho-de-pássaro, isso por que os seus corpos frutíferos assemelham-se a pequenos ninhos de pássaro com pequenos ovo sem seu interior.

Essas estruturas tem sido confundidas com os apotécios do fungo que causa o mofo-branco da haste da soja, Sclerotinia sclerotiorum. O objetivo desse texto é contribuir para a identificação desse fungo curioso.

Habitat e ocorrência

As espécies desta família de fungos são saprófitas, nutrindo-se de matéria orgânica em decomposição, sendo frequentemente observados crescendo em madeira em decomposição e em solos enriquecidos com lascas de madeira ou cascas de árvores. Em face do plantio direto são frequentemente visualizados em lavouras de soja.

Descrição

Posição sistemática do fungo:

Reino: Fungi

Subreino: Dikarya

Filo: Basidiomicetes

Subfilo: Agaricomycotina

Classe: Agaricomycetes

Ordem: Agaricales

Família: Nudulareaceae

Gênero: Cyathus

Gênero Cyathus

Os membros desse grupo apresentam corpo de frutificação em forma de taça, ou cone invertido, medindo 4 – 8 mm de diâmetro e 7 – 18 mm de altura. Apresenta cor parda ou pardo-cinzenta, com peridíolos negros em seu interior.

Angiocarpo ou basidioma

Nos membros da família Nidulariaceae os esporos desenvolvem-se internamente num angiocarpo. Os corpos frutíferos são tipicamente gregários (crescendo em grupos, mas não juntos). Quando imaturos são inicialmente cobertos por uma fina membrana com deiscência irregular ao longo de uma linha circular em redor da circunferência da abertura do cone invertido.

Os corpos frutíferos são pequenos, geralmente com dimensões 5-15 mm largura e 4-8 mm altura, em forma de urna ou vaso, e contém de um a vários peridíolos em forma de disco que se assemelham a pequenos ovos de ave.

Estrutura do peridíolo

Correspondem aos pequenos ovos encontrados no interior dos basidiomas, que são os esporangíolos, na literatura especifica, são encontrados sob a denominação de peridíolos. São lenticulares, circulares ou irregulares, normalmente com um ou dois milímetros de diâmetro (raramente três) de 

cor negra com basidiósporos em seu interior imersos num meio gelatinoso. Os peridíolos podem ser facilmente observados na superfície de folhas de soja (Figura 1).

Basidiosporos

Os basidiosporos são macios, hialinos, com parede fina e têm forma oval ou elíptica medindo de 4 μm (Figura 2) O fungo, provavelmente pertence a espécie Cyathus striatus (Huds.) Willd. (1787)(Figura 3). O detalhe da morfologia do fungo é mostrado na Figura 4. Algumas pessoas confundem o fungo ninho-de-pássaro com apotécios do fungo Sclerotinia sclerotiorum (Figura 5) encontrados também sobre o solo em lavouras de soja. Dispersão dos esporos. As paredes do ninho têm uma forma tal, que quando uma gota de chuva atinge um deles com o ângulo certo, os “ovos” são expelidos a uma distância razoável (até 1,0 m). A força de ejeção rompe os funículos, liberando o cordão funicular.

O hapteron ligado a parte final do funículo é aderente, e quando em contato com a haste de uma planta próxima, a ela se fixa podendo a corda funicular se enrolar na haste (Figura 6). Os peridíolos se degradam com o tempo e liberam os basidiosporos presentes em seu interior, ou podem ser ingeridos por animais herbívoros e liberados após passarem pelo seu trato digestivo. Com a germinação dos esporos reinicia-se o ciclo de vida.