Papel dos Fosfitos nas Culturas Extensivas


Autores:

Marcelo Carmona ; Francisco Sautua

Publicado em: 31/10/2020

Atualmente, observa-se gra­ves perdas de rendimento em função de doenças em cultivos in­tensivos e extensivos. No entanto, com um controle correto e moni­toramento, as perdas podem ser amenizadas. Dentro do manejo integrado de doenças, buscam-se medidas que sejam inovadoras, al­ternativas e complementares para fortalecer a eficiência do controle e ao mesmo tempo proteger o am­biente. Nesse contexto inovador, surgem os fosfitos como uma pro­missora ferramenta no manejo de doenças.

 O que são os Fosfitos e qual é sua ação?

Os fosfitos são sais derivados do ácido fosforoso combinados com diferentes cátions (Ca2+, H+, Mn2+, etc). Atualmente, seu uso na produção agrícola tem base no pa­pel que os fosfitos têm como ativa­dores das defesas das plantas e no efeito antifúngico direto que exer­ce sobre alguns patógenos. Os fos­fitos controlam as doenças direta e indiretamente. No primeiro caso, atuam sobre os patógenos, afetan­do a fosforilação oxidativa e outros processos metabólicos em Oomi­cetos e alguns fungos verdadeiros; e, no segundo caso, acrescenta-se a ativação dos mecanismos de­ de­fesa das plantas. Essa indução de resistência é acompanhada por aumento de proteínas relaciona­das à patogênese (PR), acúmulo de substâncias antimicrobianas de­nominadas fitoalexinas (FX) e de mudanças nas enzimas do estres­se oxidativo nas plantas. Uma ca­racterística marcante dos fosfitos é que se considera que eles apre­sentam menor risco de desenvol­ver resistência a doenças do que os princípios ativos de fungicidas e que, além disso, apresentam baixa ou nenhuma fitotoxicidade.

 

Os fosfitos e o meio ambiente

Os fosfitos são compostos de baixa toxicidade ao meio ambien­te, apresentam alta compatibili­dade em misturas de tanque, são rapidamente absorvidos e, além de serem mobilizados pelo xile­ma, também o fazem através do floema, o que permitiria a translo­cação das folhas para as raízes ao fazer pulverizações foliares. Essas moléculas são mais solúveis e es­táveis na planta do que os fosfatos do ácido fosfórico usados nos fer­tilizantes. As plantas não podem usar os fosfitos como fonte direta de fósforo (pelo menos em cultivos extensivos) como fazem com os fosfatos, razão pela qual vários autores chegaram à conclusão de que o fosfito não deve ser difundido ou usado como fertilizantes clássicos.

Estudos na Argentina

Atualmente os fosfitos são utilizados como parte do manejo integrado de doenças em lavouras como batata, tomate, videira, hor­taliças, capim, etc.

No Departamento de Fito­patologia da FAUBA, em convênio com a empresa Fertilizantes Full­tec SRL, foram realizados estudos com excelentes resultados sobre estes compostos em relação ao manejo de doenças de fim de ciclo na soja e alguns patógenos que ha­bitam o solo argentino. Demons­trou-se alta eficiência no controle de doenças e desses patógenos. Como resultado dessa interação, as seguintes publicações científi­cas completas e internacionais fo­ram alcançadas:

https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0944501315001305

http://www.revistaphyton.fund-romuloraggio.org.ar/vol86/Carmona.pdf

https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/ps.4714

https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0261219418302941

http://ri.agro.uba.ar/files/download/tesis/maestria/2016elesgarayagustina.pdf (Tesis M Sc, Beca otorgada por Fulltec)

Estudos no Brasil

Alguns estudos também fo­ram realizados no Brasil com trigo e soja, assim, por exemplo, Silva et al (2011) https://doi.org/10.1016/j.cropro.2011.02.015 demonstra­ram como é possível reduzir a se­veridade do mildio da soja com o uso de fosfito de potássio. Na cul­tura do trigo, os fosfitos aplicados isoladamente e/ou associados ao fungicida, tiveram efeito sobre a ferrugem da folha (Puccinia triti­cina), reduzindo a severidade em 59 e 62% em relação ao controle. (Arantes dos Santos, et al 2018; http://dx.doi.org/10.1590/0100-5405/2213).

O futuro dos fosfitos

Embora existam muitos rela­tos que mostram a diminuição de doenças devido à adição de fosfitos e que seu uso representa uma al­ternativa potencial a ser utilizada em um programa de manejo inte­grado na busca de uma agricul­tura mais sustentável, o uso desta prática ainda não foi totalmente estudado o suficiente.

Entre os avanços mais recen­tes, o trabalho de Gill, et al 2019; (https://doi.org/10.1111/tpj.13817), onde um estudo molecular detalhado foi realizado no fosfito para a relação patogênica do hospedeiro soja-ferrugem asiática, demonstrando a inibição sobre o fungo causador e as vias de sinalização e genes afetados por fosfitos para alcançar o controle da ferrugem asiática “in vivo”. Outro avanço recentemen­te publicado relacionado à base molecular de indução gerada por fosfito, é para o patossistema ba­tata-Phytophthora infestans da Ar­gentina (Feldman, et al 2020; https://doi.org/10.1016/j.pmpp.2019.101452 ).

Essas investigações repre­sentam um passo à frente para entender os mecanismos mole­culares do modo de ação de fosfi­tos no hospedeiro e no patógeno, gerando conhecimento que pode ser explorado para desenvolver cultivares resistentes, novos fun­gicidas no futuro, ou para decifrar mais claramente a complexa rede de interações gênicas que são in­duzidas por fosfitos.