Marcelo Carmona ; Francisco Sautua
Atualmente, observa-se graves perdas de rendimento em função de doenças em cultivos intensivos e extensivos. No entanto, com um controle correto e monitoramento, as perdas podem ser amenizadas. Dentro do manejo integrado de doenças, buscam-se medidas que sejam inovadoras, alternativas e complementares para fortalecer a eficiência do controle e ao mesmo tempo proteger o ambiente. Nesse contexto inovador, surgem os fosfitos como uma promissora ferramenta no manejo de doenças.
O que são os Fosfitos e qual é sua ação?
Os fosfitos são sais derivados do ácido fosforoso combinados com diferentes cátions (Ca2+, H+, Mn2+, etc). Atualmente, seu uso na produção agrícola tem base no papel que os fosfitos têm como ativadores das defesas das plantas e no efeito antifúngico direto que exerce sobre alguns patógenos. Os fosfitos controlam as doenças direta e indiretamente. No primeiro caso, atuam sobre os patógenos, afetando a fosforilação oxidativa e outros processos metabólicos em Oomicetos e alguns fungos verdadeiros; e, no segundo caso, acrescenta-se a ativação dos mecanismos de defesa das plantas. Essa indução de resistência é acompanhada por aumento de proteínas relacionadas à patogênese (PR), acúmulo de substâncias antimicrobianas denominadas fitoalexinas (FX) e de mudanças nas enzimas do estresse oxidativo nas plantas. Uma característica marcante dos fosfitos é que se considera que eles apresentam menor risco de desenvolver resistência a doenças do que os princípios ativos de fungicidas e que, além disso, apresentam baixa ou nenhuma fitotoxicidade.
Os fosfitos e o meio ambiente
Os fosfitos são compostos de baixa toxicidade ao meio ambiente, apresentam alta compatibilidade em misturas de tanque, são rapidamente absorvidos e, além de serem mobilizados pelo xilema, também o fazem através do floema, o que permitiria a translocação das folhas para as raízes ao fazer pulverizações foliares. Essas moléculas são mais solúveis e estáveis na planta do que os fosfatos do ácido fosfórico usados nos fertilizantes. As plantas não podem usar os fosfitos como fonte direta de fósforo (pelo menos em cultivos extensivos) como fazem com os fosfatos, razão pela qual vários autores chegaram à conclusão de que o fosfito não deve ser difundido ou usado como fertilizantes clássicos.
Estudos na Argentina
Atualmente os fosfitos são utilizados como parte do manejo integrado de doenças em lavouras como batata, tomate, videira, hortaliças, capim, etc.
No Departamento de Fitopatologia da FAUBA, em convênio com a empresa Fertilizantes Fulltec SRL, foram realizados estudos com excelentes resultados sobre estes compostos em relação ao manejo de doenças de fim de ciclo na soja e alguns patógenos que habitam o solo argentino. Demonstrou-se alta eficiência no controle de doenças e desses patógenos. Como resultado dessa interação, as seguintes publicações científicas completas e internacionais foram alcançadas:
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0944501315001305
http://www.revistaphyton.fund-romuloraggio.org.ar/vol86/Carmona.pdf
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/ps.4714
https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0261219418302941
http://ri.agro.uba.ar/files/download/tesis/maestria/2016elesgarayagustina.pdf (Tesis M Sc, Beca otorgada por Fulltec)
Estudos no Brasil
Alguns estudos também foram realizados no Brasil com trigo e soja, assim, por exemplo, Silva et al (2011) https://doi.org/10.1016/j.cropro.2011.02.015 demonstraram como é possível reduzir a severidade do mildio da soja com o uso de fosfito de potássio. Na cultura do trigo, os fosfitos aplicados isoladamente e/ou associados ao fungicida, tiveram efeito sobre a ferrugem da folha (Puccinia triticina), reduzindo a severidade em 59 e 62% em relação ao controle. (Arantes dos Santos, et al 2018; http://dx.doi.org/10.1590/0100-5405/2213).
O futuro dos fosfitos
Embora existam muitos relatos que mostram a diminuição de doenças devido à adição de fosfitos e que seu uso representa uma alternativa potencial a ser utilizada em um programa de manejo integrado na busca de uma agricultura mais sustentável, o uso desta prática ainda não foi totalmente estudado o suficiente.
Entre os avanços mais recentes, o trabalho de Gill, et al 2019; (https://doi.org/10.1111/tpj.13817), onde um estudo molecular detalhado foi realizado no fosfito para a relação patogênica do hospedeiro soja-ferrugem asiática, demonstrando a inibição sobre o fungo causador e as vias de sinalização e genes afetados por fosfitos para alcançar o controle da ferrugem asiática “in vivo”. Outro avanço recentemente publicado relacionado à base molecular de indução gerada por fosfito, é para o patossistema batata-Phytophthora infestans da Argentina (Feldman, et al 2020; https://doi.org/10.1016/j.pmpp.2019.101452 ).
Essas investigações representam um passo à frente para entender os mecanismos moleculares do modo de ação de fosfitos no hospedeiro e no patógeno, gerando conhecimento que pode ser explorado para desenvolver cultivares resistentes, novos fungicidas no futuro, ou para decifrar mais claramente a complexa rede de interações gênicas que são induzidas por fosfitos.