Alexandre Ferigolo Alves; Giovani Antonello Barcellos ; Eduardo Lago Tagliapietra ; Nereu Augusto Streck ; Alencar Junior Zanon ; Paula de Souza Cardoso ; Cristian Savegnago ; Gilmara Peripolli Tonel ; Darlan Scapini Balest ; Guilhermi Penteado Simões ; Veronica Fuzer Guarienti ; Vladison Fogliato Pereira ; Kelin Pribs Bexaira ; José Eduardo Minussi Winck
1 Introdução
No mundo das principais commodities, a soja (Glycine Max) é motivo para acordos de relações diplomáticas e econômicas entre grandes players como Estados Unidos, Brasil e China. Segundo o último relatório divulgado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos – USDA, o Brasil assumiu a liderança na produção mundial de soja na safra 19/20, em que a produção foi de 126,0 milhões de toneladas, seguido pelos Estados Unidos com 96,8 milhões de toneladas e pela Argentina com 54,0 milhões de toneladas (USDA, 2020).
A busca para atingir altas produtividades de soja é frequente, e devemos conhecer e quantificar os fatores que impendem elevar a produção por área. Nos últimos 10 anos, houve incremento médio de 20% da produtividade de soja no estado do Rio Grande do Sul devido ao melhoramento genético e ao aperfeiçoamento de práticas de manejo utilizadas pelos produtores. Entretanto a produtividade média do estado, é cerca de 3 t/ha, considerada baixa em relação a produtividades próximas a 6 t/ha obtidas em experimentos no sul do Brasil (ZANON et al., 2016; TAGLIAPIETRA et al., 2018). Essa diferença nos mostra a existência de uma lacuna de produtividade
O potencial de produtividade (PP) de uma cultura é a produtividade sendo influenciada apenas pela radiação solar, temperatura, CO2 atmosférico e características genéticas, sem restrição de nutrientes e água e sem estresses bióticos (VAN ITTERSUM et al., 2013; GRASSINI et al., 2015). Conhecer o PP da soja possibilitam aos produtores o planejamento mais eficiente de suas lavouras, em que o investimento de recursos pode ser ajustado para atingir produtividades próximas de 80% sobre o PP, maximizando a eficiência do uso de recursos e o lucro do produtor, aumentando a sustentabilidade do sistema produtivo (VAN ITTERSUM; RABBINGE, 1997). Para atingir altas produtividades é imprescindível que os estágios mais críticos da cultura coincidam com as condições de ambiente mais favoráveis (temperatura, radiação solar), minimizando a ocorrência de estresses (KANTOLIC et al., 2008; MARTIGNONE et al., 2006).
A escolha da época de semeadura e a cultivar de acordo com seu grupo de maturidade relativa (GMR) é o principal manejo a ser adotado para que essas condições meteorológicas favoráveis coincidam em cada estágio de desenvolvimento da soja. O GMR corresponde a duração do ciclo de desenvolvimento da cultura, desde a semeadura até o ponto de colheita (R8) (ALLIPRANDINI et al., 2009).
Estudos de potencial e as possíveis lacunas de produtividade tem sido a identificação dos principais fatores biofísicos e de manejo que limitam o aumento de produtividade e o direcionamento de novas linhas de pesquisa para aprimorar as atuais práticas de manejo (VAN ITTERSUM et al., 2013). A equipe FieldCrops teve como objetivo neste trabalho identificar qual a melhor janela de semeadura para os grupos de maturidade relativa para maximizar as produtividades e reduzir lacuna de produtividade.
2 Materiais e Métodos
Experimentos em nível tecnológico potencial foram conduzidos em 24 locais do Rio Grande do Sul durante 9 anos agrícolas (2010-2019) (Figura 1), utilizando uma ampla faixa de GMRs (4.8 a 8.3) e épocas de semeadura (agosto a março) que representam a realidade do estado do Rio Grande do Sul e englobando as distintas características edafoclimáticas das regiões produtoras de soja. O conjunto de dados foi dividido em 3 grupos conforme o GMR das cultivares: grupo I (GMR ≤ 5.5); grupo II (5.6 < GMR ≤ 6.4); grupo III (GMR > 6.4). Para quantificar a influência da data de semeadura no potencial de produtividade por grupo de GMR foi adotado a metodologia da boundary function (função limite) proposta por French e Schultz (1984).
3 Resultados e Discussão
Os GMRs ≤ 5.5 (Figura 2A) apresentaram o maior potencial de produtividade (6,2 t/ha), redu- zindo com o aumento dos GMRs, estes resultados estão de acordo com Zanon et al. (2016) que relataram para ambientes subtropicais os maiores potenciais de produtividade com GMRs precoces (GMRs ≤ 5.5), devido ao maior coeficiente fototérmico. Outros estudos de época de semeadura como um fator da lacuna de produtividade também foram apontados na literatura por Grassini et al. (2015) e Edreira et al. (2017) nos Estados Unidos.
Nesse estudo abordamos a perda de potencial de produtividade com o atraso de semeadura para diferentes faixas de GMR e observou-se uma perda de potencial para todas as faixas de GMR, porém, em diferentes magnitudes e em diferentes faixas de semeadura. As cultivares com GMRs ≤ 5.5 (Figura 2A) apresentaram uma menor faixa de semeadura para potenciais produtivos, podendo ser semear soja até início de novembro (03 de novembro), após essa data a perda de PP é de 30 kg/ ha/dia. Nos GMRs entre 5.6 a 6.4 (Figura 2B) a faixa de semeadura aumentou, podendo ser semeada até 15 de novembro, e a perda de PP foi de 25 kg/ha/dia. Com o aumento da faixa de GMRs (>6.5) (Figura 2C) os quais apesar de possuírem o menor PP são os que apresentaram a maior janela de semeadura, se estendendo até 20 de novembro, e a perda de PP foi de 24 kg/ha/dia.
O conhecimento do comportamento dos diferentes GMRs ao longo de uma grande faixa de semeadura presente no sul do Brasil, possibilita o melhor posicionamento das cultivares para condições específicas dos produtores, proporcionando a diminuição da lacuna existente com uma prática de manejo que não aumenta em custo para o produtor.