Michel Esper Neto ; Murilo Andrade Barbosa ; Rodrigo Sakurada Lima ; Carolina Fedrigo Coneglian ; Celso Rafael Macon ; Tadeu Takeyoshi Inoue ; Marcelo Augusto Batista
Uma das atividades agrícolas mais importantes do ponto de vista econômico no Brasil é o cultivo de soja. O plantio de soja atualmente é realizado em todas as regiões do país e nesta última safra 2019-2020, alcançamos o título de maior produtor de soja do mundo. Muitos fatores foram responsáveis para este ganho de produção, como a expansão de novas áreas cultivadas com soja, mas além disso, o fator produtividade (produção por unidade de área) teve papel muito relevante. Dentre os fatores que contribuem para o aumento de produtividade nos últimos anos, pode-se destacar o melhoramento genético e o manejo nutricional equilibrado.
O potássio é um dos elementos essenciais para a nutrição das plantas e participa da ativação de mais de 60 enzimas, diretamente ligadas a funções como: balanço hídrico, enchimento de grãos, redução de estresses biótico e abiótico. Dito isso, o planejamento da adubação potássica deve ser realizado com o intuito de melhorar a absorção do elemento e a nutrição das plantas, consequentemente isso será revertido em ganhos de produtividade.
Sabe-se que as reservas minerais de potássio são finitas, o gasto energético para extração, concentração e transporte deste elemento é alto, e o suprimento da demanda brasileira, em sua maioria, provém de importações. O que gera necessidade imperativa de evitar perdas, desbalanço deste nutriente na planta e no solo, além de posicionamentos cujo resultado possa afetar negativamente a eficiência do uso do fertilizante.
O melhor posicionamento da adubação potássica ainda gera muitos questionamentos entre engenheiros agrônomos e produtores de soja, principalmente no que diz respeito a realizar ou não a adubação de semeadura com potássio, visto que a não realização desta operação permite maior agilidade na operação de semeadura, pois diminui o número de paradas para abastecimento da semeadora-adubadora com fertilizante. Para responder este questionamento, foi instalado um experimento de longa duração na Unidade de Difusão de Tecnologias (UDT) da Cocamar no município de Floresta-PR (latitude 23° 35’ 42” sul, longitude 52° 04’ 02” oeste). Os tratamentos estudados foram com (30 kg/ha de K) e sem (0 kg/ha de K) adubação de semeadura para a soja, ambos com o restante da necessidade de K pela cultura aplicado em cobertura.
O solo da área experimental foi classificado como Latossolo Vermelho eutroférrico e encontra-se em sistema de plantio direto a mais de 20 anos. As características químicas e físicas do solo eram: Carbono 23,2 g/dm3, pH (H2O) 5,55; 15,3 mg/dm3 de P, e 0,21 cmolc/dm3 de K+, 0,0 cmolc/dm3 de Al3+, 6,4 cmolc/dm3 de Ca2+, 1,4 cmolc/dm3 de Mg2+, CTC a pH 7 de 13,6 cmolc/dm3; saturação de bases (V%) de 58 ; areia 175 g/kg, silte 65 g/kg, e argila de 760 g/kg. O experimento foi instalado na safra 2015-2016.
A velocidade de absorção do potássio pelas plantas depende diretamente do local de aplicação, do volume de água precipitado, do contato do adubo com o solo e a quantidade de outros cátions presentes no solo. Quando aplicado em superfície, forma uma frente de quantidade de K maior em superfície em direção as camadas mais profundas, proporcional à dose e ao tempo da aplicação, entretanto a magnitude de seus efeitos depende das condições de manejo de cada área em questão. O elemento é absorvido na forma de K+ pelas raízes e o processo de contato do elemento com a raiz da planta ocorre por difusão, principal mecanismo, ou fluxo de massa. No caso da difusão, o nutriente para entrar em contato com a raiz deve se movimentar de uma região de maior concentração para uma de menor concentração próxima da raiz, o que torna a aplicação de potássio importante na semeadura.
Por outro lado, a aplicação de altas doses de potássio na semeadura, pode causar danos às sementes devido alta salinidade dos fertilizantes potássicos. Este “efeito salino” é a perda de água excessiva das sementes devido a diminuição do potencial osmótico da solução do solo. Por isso, muitos técnicos optam por retirar todo o potássio da linha de semeadura. Apesar disso, os dados aqui apresentados apontam a importância do fornecimento de potássio na semeadura em quantidade adequada, no que diz respeito a ganhos de produtividade (Figura 1 e 2).
Na figura 1 são apresentados os dados de produtividade (kg/ha) das 5 safras de soja desde 2015, até a última em 2020. Percebe-se que em todas as safras analisadas a realização da adubação de semeadura com 30 kg/ha de K aumentou a produtividade (barras vermelhas), com acréscimos que variaram de 37 a 171 kg de grãos de soja por hectare entre as safras. No acumulado das safras, a adubação de K no sulco de semeadura, acrescentou 537 kg de grãos de soja por hectare (Figura 2), proporcionando aumento de produtividade médio de 1,79 sacas de soja por hectare a cada safra.
Tem se observado muitos produtores deixando de realizar a adubação de semeadura com potássio, aplicando toda a dose recomendada em cobertura com o sentido otimizar o processo. Essa prática pode até ser possível e interessante do ponto de vista de operacionalidade, mas deve ser cuidadosamente pensada, visto que os resultados desta pesquisa mostram diminuição continuada do rendimento de grãos da cultura da soja. Esta queda pode ser ainda mais acentuada em anos com déficit hídrico, considerando que o potássio é um dos elementos envolvidos diretamente com a abertura estomática e relações hídrica dentro das plantas e sua falta pode comprometer o desenvolvimento adequado as plantas.
Desta forma, as conclusões obtidas até o momento neste estudo de longa duração, sugerem que sempre deve-se realizar a adubação com potássio no sulco de semeadura, com o objetivo de melhorar os efeitos benéficos deste elemento e aumentar produtividade da soja. As doses recomendadas no sulco de semeadura não devem ultrapassar 33 a 42 kg/ha de K (40 a 50 kg/ha de K2O). O restante da quantidade recomendada pelos técnicos deve ser posicionada em cobertura a lanço em pré ou pós-semeadura (solos argilosos) e pós semeadura (solos mais arenosos).