A cultura do trigo e a qualidade da semente


Autores: Tharles Garbin ; Marcos Paulo Ludwig ; Juliano Dalcin Martins ; Eduardo Girotto ; Darlan de Maria Eickstedt ; Liziane Rohr ; Francine Simmi Zaioks ; Marcos Vinício Behnen
Publicado em: 31/10/2020

O trigo está presente na história da humanidade desde o surgimento da agricultura há cerca de 10 mil anos, porém o seu cultivo só tomou grandes proporções no Brasil a partir de 1940, onde as plantações começaram a expandir no Rio Grande do Sul e no Paraná, que se transformaram nos principais estados produtores do Brasil (ABITRIGO, S/D).

Atualmente a cultura do trigo passa por dificuldade, a falta de retorno econômico com a cultura é muito relatada pelos produtores. Fato que dificulta a evolução das áreas de cultivo e consequentemente o investimento das empresas envolvidas com a cadeia produtiva da cultura. Ainda assim existe investimento em melhoramento genético, que cada vez mais possibilita a expansão da área de cultivo nas diversas regiões do Brasil.

No Brasil a área cultivada na safra 2019 foi de 2 milhões de hectares, sendo os estados do sul, Paraná e Rio Grande do Sul responsáveis por 89% da produção do cereal, nesta mesma safra obteve-se uma produção de 5,2 milhões de toneladas e uma importação de 6,8 milhões de toneladas para atender a consumo, totalizando 12 milhões de toneladas (CONAB, 2020).

No Brasil, há interesse em aumentar a produção e produtividade de trigo para atendimento à demanda nacional, assim ocorre a necessidade de utilização de sementes que foram produzidas com alta qualidade.

A qualidade da semente assume papel fundamental para obtenção de um alto potencial produtivo de culturas produtoras de grãos como o trigo, soja e milho. Sementes de alto vigor propiciam a germinação e a emergência de plântulas em campo de maneira rápida e uniforme, resultando na produção de plantas de alto desempenho, que têm um potencial produtivo mais elevado, portanto, o sucesso de uma lavoura depende de diversos fatores ligados à produção, um dos mais importantes está na utilização de sementes de elevada qualidade, que gere plantas de elevado vigor e desempenho superior no campo (LUDWIG, 2016).

Entretanto, são poucas as informações sobre o comportamento de plantas originadas de sementes de diferentes níveis de vigor na cultura do trigo. Dessa forma, o presente estudo teve por objetivo avaliar a produtividade e características de plantas de trigo originadas de sementes de diferentes níveis de vigor.

1 Metodologia

Foi conduzido um experimento na safra 2015 no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul Campus Ibirubá, Ibirubá – RS.

No mês de junho realizou-se a semeadura da cultivar de trigo TBIO Toruk que possui um cilho médio. O sistema de semeadura utilizado foi o plantio direto e a profundidade de semeadura de 4 cm, semelhante para todas as sementes.

Para determinação das plantas originadas de sementes de alto e baixo vigor, foi utilizada a metodologia semelhante à descrita por Schuch et al., (2009), o qual considera o tempo (velocidade) entre a semeadura e a emergência, plântulas que emergiram mais rapidamente considerou-se com originadas de sementes de alto vigor, demarcadas sete dias após a semeadura e as que necessitaram de um maior período para emergirem foram consideradas como plântulas oriundas de sementes de baixo vigor demarcadas nove dias após a semeadura (Figura 1).

A condução da área experimental respeitou as recomendações técnicas da cultura do trigo quanto ao manejo de adubação em cobertura, plantas daninhas, pragas e doenças.

Ao fim do ciclo da cultura foi realizada a colheita manual das plantas demarcadas (Figura 2) para avaliação da produtividade de grãos, componentes da produtividade e características morfológicas. Os dados formam submetidos à análise de variância (ANOVA), pelo teste F a 5% de probabilidade de erro.

2 Resultados

As plantas oriundas de sementes de baixo vigor demonstraram um menor potencial produtivo em relação às plantas oriundas de sementes de alto vigor, a diferença da produtividade foi de 4.076 kg/ha (Figura 3). Tal diferença de produtividade está ligada principalmente a maior velocidade das sementes vigorosas emergirem e se estabelecerem no campo.

A maior produtividade das plantas de alto vigor demonstram a importância do uso de sementes com alto vigor, ponto que merece destaque é levar tais informações em consideração na escolha de um lote para semeadura.

Plantas de alto vigor apresentam menor propensão à ocorrência de falhas no estabelecimento da lavoura, no trabalho de Rossi et al. (2017) foi evidente o efeito do vigor das sementes na emergência de plântulas em campo, sendo superior quando oriundas das sementes de alto vigor, e quando ocorrem falhas no estabelecimento, plantas mais vigorosas têm maior capacidade de compensar falhas na população de plantas.

O peso de mil semente encontrado nesse trabalho foi semelhante para as plantas oriundas de alto e baixo vigor. A produtividade superior das plantas de alto vigor está atrelada a seus componentes de rendimento, grãos por planta e peso de grãos por planta (Tabela 1).

Esses dois fatores tem efeito direto na produtividade final da cultura do trigo, ou seja, quanto maior for o número e o peso de grãos por planta maior incremente na produtividade, ressaltando porem que a lavoura deve possuir uma população adequada de plantas.

Neste contexto cabe destacar a importância do uso de sementes com alto vigor na cultura do trigo, segundo Maculan et al. (2019) encontraram resultados acerca da produtividade das sementes certificados, comparando-as com sementes salvas pelo produtor, constatando uma maior produtividade para sementes certificadas. O vigor está diretamente relacionado com as boas práticas de armazenamento das sementes, geralmente as sementes salvas não são armazenadas nas condições ideais.

A característica número de perfilhos férteis (Tabela 2) superior nas plantas originadas de alto vigor, foi a responsável pelo maior número de grãos por planta e peso de grãos planta.

Uma lavoura cultivada com sementes de alto vigor irá apresentar uma maior velocidade e uniformidade na emergência, formando plantas com maior tamanho inicial, cobrindo o solo mais rapidamente, desenvolvendo uma melhor estrutura de produção ao utilizar melhor os recursos do meio principalmente para a maior emissão do número de perfilhos, os quais tem a função primordial de armazenar reservas que serão utilizadas posteriormente na produção dos grãos.

As plantas de alto e baixo vigor desempenharam capacidade semelhante de produção de grãos por espiga, resultado que ajuda a atribuir a maior produtividade das plantas de alto vigor a maior emissão de perfilhos férteis dessas plantas.

A emissão de perfilhos e manutenção destes para perfilhos férteis é uma característica que apresenta elevada variabilidade para cada cultivar de trigo, variáveis que para Camponogara et al. (2016) são de grande importância, pois se relaciona indiretamente com a produtividade.

Quando ao diâmetro de colmo, plantas de alto vigor obtiveram resultados superiores, característica que está diretamente correlacionado com a resistência das plantas ao acamamento. Souza et al. (2013) relataram correlações significativas entre o diâmetro do colmo e os caracteres associados ao armazenamento de fotoassimilados, e Gondim et al. (2008) verificaram que a produtividade de grãos no trigo é explicada pelas dimensões e pelo acumulo de reservas nos colmos. Portanto as plantas mais vigorosas que possuem maiores dimensões do colmo têm maior capacidade de produção de grãos e assim como menor propensão ao acamamento.

As plantas de alto vigor tiveram resultado de rendimento biológico superior em relação as de baixo vigor, diferença de 7.666 kg/ha produzindo praticamente o dobro, esses resultados superiores indicam a maior capacidade produtiva de grãos e palha. Após a colheita da cultura, a maior quantidade de palha irá cobrir o solo até o desenvolvimento da cultura sucessora e após os processos de degradação podem vir a se tornar matéria orgânica ajudando a estruturação do solo e proporcionando um ambiente mais adequado para a produção de cultivos sucessores.

Rendimento biológico está diretamente ligado a capacidade produtiva das plantas de trigo, há uma relação entre o desenvolvimento e produção de folhas com a produção de fotoassimilados que será translocada para o enchimento e produção de grãos.

O índice de colheita que leva em consideração o peso dos grãos em relação à massa seca da planta não apresentou diferença pelo vigor das sementes assim com a estatura e o número de nós

3 Conclusão

As plantas geradas de sementes de alto vigor resultaram em uma maior produtividade, grãos por planta, peso de grãos planta, perfilhos por planta, diâmetro do colmo e rendimento biológico.